Entrevista com Jorge Rodrigues, “MK Nocivo”, o artista de hip-hop que nasceu em Bragança, subiu a pulso, com vários prémios pelo caminho e que agora está no top mundial. O próximo álbum chama-se “TeRAPia” e vai ser lançado no próximo ano.
DTOM: Entrevista com Jorge Rodrigues mas para o grande público MK Nocivo… Hip-Hop em Bragança … como é que nasceu o MK Nocivo? No fundo existia um jovem em Bragança e depois apareceu o MK como é que se deu esse processo?
MK: É assim eu comecei a ouvir Rap em 98, por causa daquela altura, qualquer cidadão português da minha idade se deve recordar, por volta das seis da manhã havia as televendas a passar na televisão e havia uma compilação chamada Super Hits Of The 90's e passava um vídeo que era uma musica que era chamada “It`s like that” dos RUN DMC… eles passavam quase o vídeo completo, aquilo era um video de Rap, mas continha todos os elementos da cultura Hip-Hop que são o Graffiti, o Breakdance, o MC e o DJ e eu fiquei vidrado naquilo, até cheguei a procurar a música, aquilo passava sempre constantemente, de manhã às seis da manha, seis e meia, antes de começar a emissão e a partir daí nasceu a minha paixão. Eu comecei a ouvir Rap em 98 e em 2000 comecei a fazer graffiti, nestas ruas da cidade existem alguns graff`s da minha autoria, um bocado arcaicos, mas pronto. Em 2004 comecei com o Rap, com a produção e com a rima.
DTOM: Que idade tinhas nessa altura?
MK: 18 anos.
DTOM: Levantavas-te cedo, assim a essa hora, às seis da manhã?
MK: E às vezes ainda não tinha dormido … (risos)
DTOM: É curioso porque te levantavas cedo, eu estava a imaginar durante a noite, mas afinal era de manhã cedo?!
MK: Mas estamos numa fase inicial, estamos ainda no começo, nos primórdios, imaginemos isto como um bebé. O meu conhecimento sobre a cultura, sobre o Rap, o meu conhecimento sobre qualquer um desses estilos era nulo, já se ouvia algumas coisinhas, mas só começou a partir daí mesmo a minha paixão pela música.
DTOM: Começou a tua paixão, foi, começaste por ouvir e depois a tentar fazer?
MK: Sim, depois fui para o graffiti direto e gostava de ouvir a música , era um estilo com que me identificava.
DTOM: E depois começaste como? começaste a fazer as músicas em casa, brincavas com as rimas? começaste com o poema, exatamente como foi esse click inicial?
MK: Eu quando era miúdo também já gostava de poesia, até cheguei a entrar num concurso de poesia, na altura para a rádio RBA, sempre tive esse bichinho, sempre gostei de palavras a rimar, era engraçado, era diferente, mesmo aqueles ditados populares etc. A questão aqui no meio disto tudo, foi que era mais uma maneira de me exprimir naquela altura, com 18, 19 anos eramos putos revoltados, as vezes nem sabíamos porque estávamos revoltados, e tinha que se mandar aquilo cá para fora de alguma forma. Qual é que era o problema?! Um gajo tinha a vontade, tinha as letras, já tinha as ideias, não tinha aquela noção perfeita do ritmo, e precisávamos de instrumentais. Ao precisar de instrumentais nós tínhamos de ir a sacar a net, ninguém nos fazia batidas, ninguém nos conhecia, éramos uns miudinhos e nós íamos à net sacar aqueles instrumentais que vinham em formato free, que hoje está muito na moda, eram instrumentais onde toda a gente já tinha rimado e imensas pessoas já tinham cantado. Começamos assim, foi essa a base mas, com algumas idas ao Porto e nós contactamos com alguns artistas de lá, ainda numa fase muito embrionária da nossa parte, mas fui apanhando algumas dicas, aprendendo algumas dicas na parte da produção e foi assim que comecei a produzir. Em 2005 já estava assim com umas bases bacanas, comecei então a fazer os próprios instrumentais por necessidade, para não ter que estar a ir a net buscar instrumentais, para não ter que andar a pedir aos outros, gostávamos de rimar num beat teu, achas que nos podias ceder um para a nossa cena? E por vezes surgiam featurings logo no momento ou no futuro. Também havia o caso de nos cederem instrumentais e eu fazer a mistura dos seus trabalhos (dentro do que sabia na altura). Numa fase muito inicial, era com o “Eskuadrão Furtivo”, eram os companheiros de escola fomos evoluindo e mais tarde já não havia esse problema, começámos a mostrar o nosso trabalho nas músicas, depois já alguns produtores nos contactavam a nós, isto numa fase inicial na altura do Messenger, MSN, no “Bate Papo”, como se costuma dizer.
DTOM: Só para os nossos leitores perceberem, tiveste essa fase inicial, em que ouvias música e depois começaste a fazer as gravações, fazias em casa, eras tu que as fazias?
MK: Sim.
DTOM: Isso foi antes ou depois do Rock Rendez Vous, como é que começou uma grande aventura para o transmontano no Hip-Hop?
MK: Eh paah!
DTOM: Já fazias em casa, lembraste-te!
MK: Sim,sim. E já tínhamos trabalhos, aliás eu já estava a fazer o meu trabalho a solo, nessa altura fazíamos trabalho em grupo, mas era mais naquela, quando um podia, o outro não podia mas lá nos juntávamo-nos todos, ia-se fazendo alguma coisa, nunca foi tão a sério porque eu tinha já outras coisas em vista.
DTOM: Estudavas?
MK: Sim, mas não só, nesse sentido também, mas no sentido, por exemplo, enquanto eu fazia às vezes mais letras e eu achei que poderia colocar aquilo num projeto meu, e pronto já tinha mais contactos, era mais ativo online, do que a maioria deles, e já ia contactando com mais pessoas e diariamente era bombardeado com ideias, “olha o que achas deste instrumental”, “olha poderias falar sobre uma cena assim, não sei o que, não sei que mais”, e eu comecei a achar, ya posso fazer isso. Então dediquei-me a preparar o meu álbum, fui gravar em Valongo, na altura fiz Feat com o Fuse dos Dealema e também com o Psicótico, eram pessoas que eu já ouvia, que são Rap português, eu comecei a ouvir Rap americano, mas depois passei também para o Rap português, fui misturando tudo, fui procurando também, espanhol, francês. epá com o francês já foi mais problemático porque na altura não falava, hoje em dia já falo melhor, já percebo melhor algumas coisas que ouvia mas não entendia e era, só ia la mesmo pela Vibe e pelo que te transmitia e fazia sentir. E claro os videoclipes ajudavam imenso, mas era como se estivesse a ver um filme mudo.
E é isso começamos a criar,(pausa) ... com o rock rendez vous foi uma notícia que apareceu online, lembro-me perfeitamente a página demorava imenso a carregar e era só para nos inscrevermo-nos, eu já tinha estado a estudar em Lisboa, já tinha lançado o meu primeiro álbum. Quando estava em Lisboa a tirar o curso de Técnico de Espetáculos e conheci algumas pessoas, uma delas foi o Xksitu que me acompanhou, os meus colegas de trabalho ninguém podia ir, estavam todos a trabalhar nessa altura, ou ocupados com outras coisas. Então nós fomos ao rock rendez vous, eu fui com ele, ele conhecia o meu trabalho. Na altura eramos 4 finalistas, não me recordo mesmo do nome das outras bandas, uma delas era mesmo banda. Nós no Hip-Hop, é geralmente MC e DJ e eles era mesmo banda, guitarra, baixo e a bateria, pensava que eles iriam ser os vencedores, e paah fizemos a nossa cena, eu na altura fui com a “Cidade do Pecado”, que era o single do meu álbum e ele conhecia muito bem, uma música referente a Bragança, saiu em 2007, e nós pronto, fomos lá tentar a nossa sorte e tudo correu muito bem, fomos os terceiros a atuar, os primeiros estavam fixe, os segundos também ao mesmo nível, a nossa atuação correu super bem, e depois entram esses gajos com a banda, nós ficamos logo desanimados, uma moça a cantar refrões, o gajo fazer Rap, era uma banda de 5 ou 6 elementos, eram bons, muito bons. Oh paah, já fomos! Nem sequer liguei mais ao assunto, fomos beber um copo. Eles não disseram logo os vencedores, era só suposto 3 semanas, se bem me recordo foram 2 meses, um dia o Xksitu ligou-me e perguntou e perguntou se já alguém me tinha contactado, ninguém me tinha dito nada, e lá com o seu sotaque lisboeta “Oh paah… Mano tu ganhaste”, e foi essa a grande surpresa.
DTOM: Depois do Rock Rendez Vous nasceu o primeiro álbum, onde foi gravado?
MK: Não, o primeiro álbum foi gravado em Valongo, fui lá para um estúdio profissional e gravamos tudo lá, eu tinha as bases todas, instrumentais tudo preparado, só faltavam duas letras e durante as gravções terminei essas duas que faltavam.
DTOM: Esse álbum quantas músicas tinha ao todo?
MK: Se não estou em erro 18 ou 19 (pausa) não tenho a certeza!
DTOM: Como se chama o álbum?
MK: “Capítulo Obsceno” , os meus álbuns são todos grandes, a não ser este último que tem 12 faixas.
DTOM: Foi com a vitória no Rock Rendez Vous que decidiste seguir o caminho da música?
MK: É assim, nós já tínhamos todos aquela noção que fazíamos alguma coisa bem e isto foi mais ou menos a aprovação de terceiros, neste caso do grande público, mas sim nós já tínhamos aquela confiança, não confundir confiança com vaidade, mas estávamos com aquela ideia que alguma coisa conseguíamos fazer, não íamos mesmo com a ideia de ganhar, e isso mais tarde voltou-se a repetir quando foi do NOS Alive, uns anos depois mas já falaremos disso. Ninguém ia com ideia de ganhar, fomos tentar a nossa sorte, mostrar o nosso trabalho. A nossa ideia era mais só isso, chegar lá, mostrar quem somos e estamos aqui, e mesmo que não ganhássemos já ficam a saber quem são os “Eskuadrão Furtivo”.
DTOM: Correu lindamente!
MK: Foi, acabou por ser “MK Nocivo & Xksitu”, nós sempre a tentar não ir a baixo, tenho até uma rima num trabalho novo que vai sair agora, que é “ não te desvalorizes já sabes que eles vão faze-lo, tu próprio não te desvalorizes, terceiros vão faze-lo", portanto, paah tentar não ir abaixo, tentar ter sempre a cabeça erguida, eu continuo aqui 15 anos depois, nunca tive aquele grande break devido às condições de morar aqui etc. mas se não fosse mesmo por amor, já não estava aqui.
DTOM: A música é uma paixão, a tua música é uma paixão para ti. Depois desse primeiro álbum, a seguir o que fizeste?
MK: Fiz álbuns e MIXTAPES
DTOM: Fizeste Mixtapes, e depois ai foste finalista do Sumol Summer Fest …??
MK: Fomos à final, mas não ganhamos.
DTOM: Também foi bom!
MK: Compreendo, o Sumol nesse ano estava virado para o Reggae, até queria enviar um abraço para eles, e para o pessoal do Sumol e nós fomos à final com 3 bandas Reggae.
DTOM: Foram os melhores do Hip-Hop!
MK: Melhores!? acho que eram 150 bandas a concorrer, foram 4 só à final. Mais uma vez não íamos com intenção de ganhar, fomos mesmo pela viagem e pela experiência.
DTOM: De qualquer maneira, o melhor vem depois, no ano a seguir com o NOS Alive, que acabaram por ganhar mais uma vez, não podeis ir a mais concursos, porque ganhais isso tudo (risos).
MK: Nós tentamos, eu quando estou em palco dou o litro, prefiro chegar a casa todo roto.
DTOM: Não é só a performance em palco que é avaliada, é também da música e da letra?
MK: É a escolha da música ideal para os sítios ideais, por exemplo, eu tenho um reportório para tocar num sítio calmo, tenho outro para tocar num sítio festivo e se calhar tenho um reportório para tocar num sítio interventivo, por exemplo, no Avante! Quem diz no Avante, diz numa manifestação qualquer, tenho reportório para tudo isso, consigo se calhar tocar numa sala com vocês sentados e eu sozinho no palco, uma cena mais intimista, consigo tocar numa semana académica, consigo tocar num sítio mais dançante, por exemplo, uma Rave.
DTOM: Nos concertos atuas tu sozinho, ou tens mais elementos?
MK: Tenho o meu parceiro do crime, DJ 90 Cutz.
DTOM: Estes prémios, para ti são uma medalha no peito, mas também são uma responsabilidade, como encaras essa situação?
MK: Como qualquer outra, são cenas que nos correm bem, há outras que correm mal. Eu já tive aí grandes esperanças e estar a fazer uma música e a pensar mesmo, dei mesmo o meu litro nisto, isto vai ser mesmo fixe e depois flop, também já tive o contrário com a “Filha de Emigrantes” nunca pensei que tivesse atingido as proporções que atingiu, e com o “Soldado da Paz” idem. O "Soldado da Paz" foi uma música que tinha que ser feita, o Rap tem que ter intervenção, tem que ser interventivo. Ainda por cima um dos bombeiros que faleceu era um colega que passava diariamente por mim nos corredores da Escola Superior de Educação, eu tinha que dizer alguma coisa e quando foi na "Carta de Um Dux" exatamente a mesma coisa, eu tinha de falar. Eu era Dux naquele ano, eles escreveram uma carta que rolou pela internet, “Carta para um Dux” eu li aquilo, achei completamente injusto, estavam a generalizar imenso com situações da praxe, que não se aplicavam a todo o lado, e resolvi escrever a "Carta de Um Dux" resposta à Carta de um Dux. Muitas pessoas não sabem, porque eu também não quis revelar para ver quem chegava lá, pô-los a pensar um bocadinho.
DTOM: Depois disso, quantos álbuns já fizeste ao todo?
MK: São 5 Mixtapes e dois álbuns de originais.
DTOM: Isso dá mais de 100 canções!
MK: Sim, mais as participações nos álbuns dos outros, e as faixas soltas. Só este ano em faixas soltas já vou em 7.
DTOM: Isso faz de ti, talvez o nome mais importante do Hip-Hop transmontano sem a menor dúvida, com uma grande projeção nacional, certo?
MK: Ando a explorar fora do território nacional de momento.
DTOM: E é isso que íamos lá chegar , e internacional.
MK: Agora estou a focar-me muito a trabalhar com o pessoal dos Estados Unidos.
DTOM: Já temos MK Nocivo, um transmontano com grande nome no Hip-Hop, nascido aqui em Bragança, isto é um feito, algo que marca, já tinhas conquistado com estes prémios o reconhecimento nacional, como é obvio, mas agora nós queremos saber da tua carreira internacional.
MK: É assim, eu na França não parei.
DTOM: Estás a viver na França agora?
MK: Sim, estou a residir em Paris, mudei-me há 2 anos (pausa), eu por acaso tive sorte, também fruto do meu trabalho, conheci lá músicos que já trabalhavam com outra malta, nomeadamente o DJ Idem e a partir daí fui introduzido no meio musical com outras pessoas, DJ Poska, e no seio desta malta, fui progredindo e chegando a outras pessoas que não estão presentes em Paris, mas que visitam de vez em quando. Estamos a falar de artistas Supa Yaway, que é de Washington, pronto, eu estou a trabalhar com bastantes artistas americanos e também com artistas franceses, e com portugueses. O mais recente foi até com Don Falcon, também é português e está em Paris e estou a trabalhar com o Grupo Go Fast Gang e pertenço à crew Go Fast Global, estamos a fazer o nosso trabalho. Vai haver provavelmente uma boa hipótese de eu começar a fazer algumas das minhas rimas em inglês, porque eles disseram-me que teriam um bom plano de internalização.
A minha ideia é essa continuar, nunca largar a língua portuguesa, mas para fazer essa tal conquista mundial, que seria bom, seria ótimo, tem que se expandir um bocado os horizontes e tentar o Inglês, temos que ser conscientes que nem toda a gente fala português.
DTOM: Porque a tua música é essencialmente em português?
MK: Eu penso que não pode ser traduzido à letra, consigo fazer o mesmo em inglês, é uma questão de tentar, claro, mas penso que consigo fazer o mesmo.
DTOM: Estás a viver em França, por uma questão económica como toda a gente, ou foste para França por motivos musicais, foi a música que te levou?
MK: Foi, de certa forma ambas, um pouco de cada lado. Não que estivéssemos muito mal aqui, mas estamos melhor lá. Na parte musical, sim, sem dúvida temos muitas mais hipóteses lá, estamos a falar do 2º mercado mundial no que toca a Rap, Hip-Hop, neste caso Hip-Hop é cultura, Rap é o que consumimos em termos músicais. O meu único impasse, é que eu ainda não domino a língua francesa, é complicado dominar o francês acredite! Como já percebo, já consigo fazer um bom trabalho com inglês mesmo nível comunicação, mesmo a nível de escrita, acho que vou investir também um pouco no inglês.
DTOM: O teu público, não se dirige só aos emigrantes portugueses é a comunidade francesa no geral, é ao mundo todo?
MK: Direcionado para os portugueses como para a comunidade francesa, os concertos são realizados no exterior de Paris, não tanto no centro, mas sim, é de um modo geral. Não podemos só abranger um público, temos de tentar abranger mais.
DTOM: Vamos falar de uma coisa que tenho interesse em saber, vamos falar do teu processo criativo, como é que tu crias as músicas, é um sentimento, algo que tu ouves, o que fazes primeiro, crias primeiro o poema em papel, a música, gravas, como é esse processo criativo?
MK: Eu tenho um pouco de tudo, eu costumo andar sempre com o telemóvel e acontece que na rua, sou bastante observador e quase tudo me dá uma perspetiva engraçada, quando é para fazer rimas de ataque, ou rimas de batalha ou então na perspetiva de introspeção ou de narrador. Narrar, tenho um pouco de tudo, se calhar o que tenho menos é aquele tipo de rap “Love”, música de amor, mas pronto, geralmente eu opto primeiro pela letra, vou na rua, tiro uns apontamentos para o telemóvel, isso acontece muitas vezes. Quando se trata de sentar para fazer mesmo um tema, tenho de ter sempre o instrumental primeiro.
DTOM: O instrumental é primeiro? Crias ou ouves da net?
MK: Uso mais os temas dos produtores amigos meus, que têm dezenas, aliás, centenas de instrumentais, mas também faço os meus. Quando é um que eu sinto mesmo, que se enquadra com qualquer coisa que eu quero dizer no momento, uso o meu, mas é mais raro, de todos os temas mencionados, deve haver uns 6 ou 7 músicas com instrumentais meus, não tem mais. Eu sei admitir quando há pessoas que são melhores do que eu, e é mesmo isso, nós queremos o melhor para o nosso trabalho. Geralmente uso de outros produtores.
DTOM: Portanto, mas tu fazes primeiro o poema, imaginas a poesia?
MK: Posso ter uma base, posso ter uma ideia, por exemplo, às vezes numa frase vem uma rima, uma música inteira. Depende da frase, se a frase for “As voltas que a vida dá…”, o que se pode pegar por aí, centenas de coisas … a música pode chamar-se só “Voltas”, e pronto, é só fazer o trocadilho por aí. Ao ter esta ideia, do que nós poderemos pegar, já podemos ter uma ideia como poderia soar, uma coisa alegre, triste, melancólica ou pesada! A partir daí a gente gira. Claro que há aquelas coisas também, vemos um filme inspira-te, vais na rua vês uma situação, por exemplo, de caridade ou de interajuda e inspira-te. Isso ou se toma logo apontamento, ou pronto ter o instrumental e mudar logo o nome ao instrumental, e fica com aquele nome, já sabes que tens um tema que vais ter de escrever, quando fores na rua e vires alguma coisa já vai para aquela pasta, para aquele tema.
DTOM: Vamos falar do processo inspirativo, a tua inspiração tem a ver com a tua infância em Trás-os-Montes em Bragança, tem a ver com alguma revolta que sentiste, tem a ver com os pais, com os amigos, com a vida, esses momentos vêm de alguma nostalgia?
MK: De tudo o que me rodeia.
DTOM: Absorves ideias do meio que te rodeia?
MK: Exatamente, é mesmo isso. não dá para dizer que é só de um sítio, porque estaria a mentir, o que disseste mais correto, pronto é isso, “É a vida”, tudo que se passa, raiva, revoltas, emoções, desgostos, traições, tristezas, alegrias, tragedias (risos), o pessoal diz que tenho jeito para isso, consigo colocar-me bem no papel da pessoa, pronto, eu também acho que sim, sou um narrador presente por assim dizer, a história não é comigo, mas eu estou a falar na primeira pessoa, geralmente eu costumo dar a dica na música, não costumo fazer histórias inventadas, histórias da carochinha, claro também se podem fazer. Eu gosto muito do real, a minha próxima música do meu álbum vai se chamar “Real”.
DTOM: Vai se chamar Real? Vamos falar então agora do futuro, sobretudo daquilo que tens agora em mente, o próximo álbum, quando é que vai sair, temas, lançamento em França ou Portugal?
MK: Vou lançar agora proximamente, vai ser lançado em França, desta vez nem optar por formato físico, ou tudo em plataforma digital ou então num formato diferente, mas também não vou dizer qual é o formato se não estragas-me o marketing. Tenho lá uma mega ideia (emplogado).
DTOM: Conta lá algo de novo, o nome do albúm?
MK: Tenho uma mega ideia paah! Aquilo vai ser mesmo … oh paah! É como se fosse, mal compras podes chegar logo ao carro e ouvir, mas não é um CD, tenho, aí uma boa ideia.
Se conseguir sair tudo como planeio sair o álbum, até posso dizer o nome do álbum, vai-se chamar “TeRAPia”, vai ser uma coisa engraçada porque, a música é a minha terapia, cuida da alma. Se um gajo não tivesse o Rap já tinha andado aí no psicólogo não sei, mas é o que eu te digo, é pegar, meter tudo que nós temos da vida e descarregar para lá. Se fores ver as músicas todas, falaste da cena do passado, tens “A brincadeira de criança”, falaste a cena da região, tens a “Trás-os-Montes”, falaste a cena da vida, tens a “Não entendo” , “Questões da vida”, “Filha de emigrante", podia estar aqui o dia inteiro.
DTOM: Futuro, imediato?
MK: Não, só tenho duas músicas ainda, não posso adiantar data mas já tenho as ideias praticamente todas que quero lançar.
DTOM: Não digas o dia certo, mas é este ano?
MK: Não, não posso dar datas, mas talvez para o final do próximo ano.
DTOM: E a curto prazo o que andas a fazer?
MK: Acabamos de gravar um videoclip da "Não Suporto" foi gravado com o C57 no Kartodromo de Bragança, na semana seguinte temos a gravação com o mestre Paulo Neiva, mestre de Kung-Fu no Budogym. A música vai-se chamar “O Pior Inimigo”, na mesma com C57 de Mirandela, com quem colaboro bastante, e vai sair em breve uma participação minha no álbum do Saraph Sunman da Carolina do Sul (USA), para já a curto prazo são esses.
Vamos lançar também, em setembro inicios de Outubro, um single “Different II” e é com os Go Fast Gang e a Ivaanyh, e tenho mais algumas participações com artistas franceses e americanos.
DTOM: A música não é para desistir?
MK: Eu costumo dizer, enquanto a voz não me doer irei exprimir-me com o coração!
DTOM: Grafitis vais continuar a fazer?
MK: Não,eu costumo dizer, MC até ser avó, grafitis já não é para mim, já me treme a mão (risos).
DTOM: Alguma coisa que gostasses de dizer?
MK: Agradecer a toda a gente, que continua a seguir o meu trabalho. Vou trazer umas novidades engraçadas, é só passarem no meu Facebook, Youtube, Twitter, Instagram, é tudo MK Nocivo … e estamos ligados!
Entrevista e fotos de António Pereira
Algumas fotos cedidas por MK Nocivo