Pedro Rego, um dos melhores fotógrafos brigantinos e nacionais, em entrevista ao Diário de Trás-Os-Montes, revela o seu início, motivações e projetos. Esta é a entrevista de um homem em comunhão com a Natureza que preserva em fotografias toda a beleza que a mesma nos transmite. Recentemente lançou o livro “Pólo Norte – O Degelo Final” em que alerta através das suas imagens para problemas que assolam o nosso planeta.

 

DTM - Como iniciou esta aventura no mundo da fotografia e o que te motivou a ser profissional nesta área?

PR - O início foi em meados de 2000 com a compra de uma pequena máquina digital compacta. Já antes tinha fotografado em rolo, com uma Canon AE-1 mas o maior impacto da fotografia em mim, foi nessa altura. Depois, a partir de 2006, com a compra da minha primeira Reflex, que me abriu portas a todo o universo da fotografia. A partir de 2012 veio a decisão de me tornar profissional nesta área, por duas razões fundamentais; a primeira por uma questão de necessidade, a docência vive dias muito difíceis, apenas conseguia encontrar horários de 6h e 12 h e fora de Bragança o que não me garantia um ordenado suficiente para me alimentar a mim e à minha família. A segunda por já ter um vasto conhecimento adquirido principalmente ao longo dos últimos 6 anos, o que me faziam ter um bom conhecimento a nível técnico e a nível de mercado e, claro, por gostar muito de fotografia.

DTM - Como pode um fotógrafo se destacar perante uma crescente banalização da fotografia?

PR - É mesmo muito difícil...como diz e bem, hoje em dia banaliza-se muito a fotografia. Banaliza-se no sentido da não valorização da fotografia em si, pois paradoxalmente, vivemos tempos em que toda a gente destaca e valoriza a fotografia, mas ela cada vez vale menos em termos monetários. Isto porque existem muitos amadores com grande qualidade que pelo facto de não viverem da fotografia oferecem as fotos que tiram e o mercado aproveita-se disso. É impossível competir com o gratuito, mesmo que tenhas fotos melhores. Outro exemplo disso é a massificação das fotografias publicadas na internet e nas redes sociais, muitas vezes sem critério e apenas com um único intuito, a caça aos “likes” e ser-se popular.

DTM - Porquê a escolha da vida animal como género fotográfico predominante nos teus trabalhos?

PR - Acima de tudo porque adoro a Natureza, adoro estar em contacto com a Natureza e sinto que a fotografia de Natureza me completa. Sou um apaixonado pela vida selvagem. Não faço só fotografia de Natureza, infelizmente para se conseguir alguma rentabilidade em fotografia é necessário fazer outros trabalhos e gosto muito de fotografar Desporto, mas sem dúvida que é na Natureza e na fotografia de Natureza que me sinto bem e que me dá enorme prazer fotografar.

DTM - Qual foi a motivação para chegar ao conceito presente no livro “Pólo Norte – O Degelo Final”?

PR - As razões para esse conceito e para a elaboração do trabalho são três; a primeira porque as alterações climáticas e o aquecimento global sempre foram temas que me preocuparam e que me interessaram. Julgava eu antes e tenho a certeza agora, depois do trabalho feito, que é o maior problema que a humanidade irá enfrentar no futuro. Senti que seria o momento ideal para fazer este trabalho devido às notícias cada vez mais alarmantes do aumento do degelo no Ártico. Depois e associado a isso, o aumento do perigo de extinção do Urso Polar, um dos animais mais icónicos do planeta e que hoje enfrenta sérias dificuldades devido ao degelo. E a terceira razão, uma razão mais pessoal, porque o gelo e estas regiões do planeta sempre me atraíram e era um objetivo que tinha de ir lá fotografar.

DTM - Que dificuldade encontrou no processo preliminar e durante a tua aventura no Pólo Norte?

PR - Muitas dificuldades, sobretudo no aspeto económico. Este era um trabalho que em termos de orçamento superava as minhas possibilidades e encontrei desde logo uma enorme barreira que dificultava a execução do trabalho. Como é um trabalho não financiando, ou não pago por nenhuma empresa ou entidade, todos os custos inerentes à expedição teriam que ser suportados por mim e sozinho nunca teria conseguido. Recorri a um crowdfunding e a patrocínios de empresas e instituições. Felizmente correu tudo bem e consegui. Depois, todo o processo de planeamento foi extremamente difícil pois tinha poucos dias para poder passar no ártico e tudo tinha que estar milimetricamente coordenado e planeado para correr bem. Como exemplo, para se fazer um bom trabalho deste género eu iria necessitar de estar no Ártico durante 2 meses e...tinha apenas 14 dias. Muita coisa para conseguir fotografar e pouco tempo. Mesmo assim nem tudo correu bem, durante a estadia no Ártico tive um problema grave no barco, estávamos a navegar perto de uma porção de mar congelado, começámos a fazer uma aproximação a uma zona onde estava um urso quando de repente o motor do barco partiu e ficámos presos no gelo. Tivemos que ser rebocados e toda a expedição ficou comprometida. Felizmente consegui resolver a questão e arranjei um outro barco à última da hora que me permitiu navegar para norte, junto do mar gelado e dos ursos polares. Depois, o frio, embora sendo Transmontano, o Ártico consegue ser um pouco mais frio que aqui! 

DTM - Como têm sido o feedback em relação ao teu trabalho “Pólo Norte – O Degelo Final”?

PR - Tem sido excelente, todas as pessoas que têm contacto com o trabalho elaborado têm ficado muito satisfeitas com o que veem, quer a nível do documentário de vídeo, que ainda só se conhece o trailer inicial, quer a nível do livro que tem tido muita procura. Os feedbacks recebidos têm sido muito positivos.

DTM - Regressaste recentemente de África, como foi mais essa aventura com um contexto tão diferente da tua viagem ao Pólo Norte?

PR - Totalmente diferente! Desde logo pelo clima em si, no Ártico lutava-se contra o frio extremo, em África é contra o calor! Durante os dias que estive no Serengeti, as temperaturas rondaram os 40 graus. Depois também totalmente diferente pelas paisagens e pela vida animal. O Ártico sendo um local mais inóspito tem menos quantidade e presença de vida, em África é absolutamente extraordinária a quantidade de animais que ali vive. Esta viagem correu muito bem e tive a felicidade de poder fotografar todos os objetivos que tinha traçado. Foi um trabalho direcionado para os grandes predadores africanos, Leão, Chita, Leopardo, Hiena, com a adição de outros animais emblemáticos de África e que também correm elevado risco, como os Elefantes, Girafas, etc.

DTM - Podemos dizer que mais uma aventura equivale a mais um livro?

PR - Muito provavelmente! O objetivo é esse, mas para já é preciso ver e tirar conclusões do impacto e do sucesso que o livro do Pólo Norte terá. Só depois saberei se há condições para iniciar uma nova obra.

DTM - Que outro projeto já tem em mente para o futuro?

PR - Já tenho em mente 5 novos projetos. A bem dizer, isto é só um projeto, que contempla 6 diferentes trabalhos. O primeiro está concluído, faltam 5! É um projeto que terá como duração cerca de 5 anos, ou seja o objetivo é conseguir realizar pelo menos 1 por ano. Não poderei revelar todos, até porque muita coisa pode mudar até lá e alguns locais já definidos até poderão ser substituídos por outros, mas há um, que será o meu próximo destino, que não vai mudar. É daqueles objetivos que já está traçado, que é ir ao outro extremo do mundo, a Antártida! Novos objetivos, novas dificuldades, novas barreiras. Mas tudo farei para as ultrapassar.

Para mais informações sobre o trabalho de Pedro Rego visitem as suas páginas:

Facebook:
https://www.facebook.com/pedroregowildlife/?fref=nf

Instagram:
@pedro_rego_wildlife

Youtube:
https://www.youtube.com/channel/UC_t-tnP_lMcrn94PJ6pu5Dg



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