Na serra do Alvão foi hoje lançado o Ano Internacional das Pastagens e dos Pastores 2026, com uma demonstração de condução de rebanhos de cabra bravia e alertas para a importância desta atividade que corre risco de extinção.
José Costa, de 55 anos, sai diariamente com as suas 230 cabras de raça bravia para percorrer cerca de 20 a 30 quilómetros pela serra do Alvão, acompanhado de cinco cães.
“Esta cadela encaminha e junta as cabras e os outros servem para as guardar dos lobos. Ajudam o pastor para não gastar tanto as botas”, afirmou o responsável, que falava em Alvadia, aldeia do concelho de Ribeira de Pena, no distrito de Vila Real, onde decorreu a ação de demonstração da atividade.
A Pantera, uma pequena cadela preta de raça indefinida, é a que corre atrás do rebanho a cumprir as ordens dadas pelo pastor. Os outros são cães de gado transmontano e castro laboreiro.
A cabra bravia é característica de zonas de montanha, como o Alvão ou o Gerês, é um animal muito resiliente, que lida bem com o frio e o calor e com restrições alimentares. A sua produção é exclusiva para carne.
“Aqui não há domingos, nem feriados. Saímos para a serra todos os dias”, salientou José Costa, que viveu quase a vida inteira da pastorícia, mas que acredita que esta atividade “acaba” na sua geração.
É que um trabalho muito solitário, duro e diário, que não atrai os mais jovens.
Mas esta é também uma atividade considerada “fundamental” conservar costumes e saberes, que são práticas muito antigas, para preservar um conjunto de paisagens e de habitats e ainda para prevenir os incêndios, com o “serviço de limpeza” de matos que desempenham.
“Hoje é a primeira iniciativa em Portugal relacionada com o lançamento do Ano Internacional das Pastagens e dos Pastores em 2026 e visa, essencialmente, mobilizar as comunidades pastoris e chamar a atenção da sociedade e dos governos para a importância da manutenção da pastorícia”, afirmou Duarte Marques, do projeto “Terra Maronesa”, um dos promotores da iniciativa de hoje.
Porque a atividade está quase em vias de extinção, o responsável disse que se pretende reabilitar, atraindo novos pastores e introduzindo novas tecnologias.
“É possível conjugar com a incorporação de mais saber e tecnologia, o uso de coleiras GPS nos animais, equipamentos de apoio ao maneio como mangas, cancelas, manjedouras, a modernização dos estábulos. Tudo isto é um processo que está a acontecer”, salientou.
As Nações Unidas (ONU) declararam 2026 o Ano Internacional das Pastagens e dos Pastores, refletindo a importância das pastagens na criação de um ambiente sustentável, crescimento económico e meios de subsistência resilientes para comunidades em todo o mundo.
O objetivo é “sensibilizar e promover o valor das pastagens e do pastoreio sustentável, bem como defender a necessidade de fortalecer ainda mais a capacidade do setor da pastorícia extensiva e aumentar o investimento responsável neste setor”.
Visa ainda a “adoção de práticas sustentáveis de utilização da terra, a melhoria ou restauração de ecossistemas, acesso equitativo aos mercados e à saúde e o bem-estar animal”.
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) é a entidade responsável por organizar, à escala global, o Ano Internacional das Pastagens e dos Pastores.