A Liga dos Amigos do Douro Património Mundial (LADPM) alertou hoje para o risco de o projeto de Mário Ferreira para a construção de uma unidade hoteleira em Mesão Frio colocar em causa a classificação do Douro pela UNESCO.

“Entendemos que o relatório que o ICOMOS [Conselho Internacional de Monumentos e Sítios] produziu é taxativo quanto à recomendação da não aprovação deste projeto e do risco que coloca para a manutenção da classificação do Douro como Património Mundial”, disse à agência Lusa o presidente da Liga, António Filipe.

Para a LADPM é “importante para a região que este estatuto [de património mundial da humanidade] seja mantido” e “tudo o que possa por em causa é razão e motivo de preocupação”.

Em causa está a construção de um hotel de cinco estrelas no lugar da Rede, concelho de mesão Frio, distrito de Vila Real, que a Comissão Nacional da Unesco (CNU), acompanhada do parecer técnico do ICOMOS, considera que vai colocar a paisagem do Douro vinhateiro na lista dos bens classificados em perigo, "abrindo caminho para uma futura exclusão da lista de património mundial", avançou o jornal Público no domingo.

António Filipe lembrou que “na base da atribuição do estatuto de património mundial está o cruzamento feliz entra a natureza e a vontade do homem”.

Recusando ser “contra o desenvolvimento”, pediu diálogo entre as partes interessadas.

“O que pedimos é que as partes se juntem, no sentido de perceber se é possível fazer um outro projeto, outro tipo de investimento que possa não colocar em causa este valor fundamental e ao mesmo tempo permita o desenvolvimento da região e do Douro em geral”, salientou.

O responsável adiantou também que, no processo de consulta pública para este projeto, que decorre até 29 de janeiro, a associação que defende do Douro enquanto património mundial irá colocar-se “naturalmente ao lado da posição do ICOMOS na recomendação de que o projeto não seja aprovado”.

“O Douro tem de continuar a viver, tem de ter uma economia pujante, nomeadamente uma economia do vinho e da vinha, e do turismo, para que possa continuar a ser património mundial”, acrescentou.

Sobre o projeto previsto para Mesão Frio, António Filipe alertou que a paisagem daquele local consiste em pequenas construções, propriedades maioritariamente com vinha e numa zona muito sensível que “deve ser tratada como tal”.

Lembrou, ainda, que sobre o Douro recaem vários tipos de ameaças, destacando a dificuldade em fixar população jovem, as alterações climáticas verificadas ao longo dos últimos 50 anos ou os pedidos de prospeção para extração de minérios.

A Douro Marina Hotel, sociedade do empresário Mário Ferreira, apresentou o terceiro Estudo de Impacte Ambiental (EIA) para a construção, na margem do Douro, em Mesão Frio, de uma unidade hoteleira em Mesão Frio, com a classificação proposta de 5 estrelas, cujo projeto está na fase de estudo prévio.

O empreendimento turístico irá possuir uma área total de cerca de 23.100 metros quadrados, dos quais 8.497 metros quadrados serão destinados à área de implantação do hotel, que terá 180 unidades de alojamento, das quais 12 correspondem a suites e três serão adaptadas para pessoas com mobilidade condicionada, sendo que a estes acrescem mais 13 quartos para alojamento do pessoal.

A restante área, com 14.603 metros quadrados, corresponde aos espaços exteriores, que se desenvolvem em torno do edifício, e será reservada à implementação de espaços verdes, áreas de lazer, acessos e parqueamento automóvel.



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