O Castro do Castroeiro, em Mondim de Basto, foi classificado como sítio de interesse público, segundo uma portaria publicada hoje em Diário da República que o considera um “importante testemunho das formas de ocupação do território”.

Localizado numa pequena elevação a curta distância do alto de Nossa Senhora da Graça, aquele povoado da Idade do Ferro está integrado numa larga mancha granítica, na freguesia de São Cristóvão de Mondim de Basto, e detém um domínio estratégico sobre o vale do rio Tâmega.

“A dimensão e a longa cronologia do local, que chegou a ser utilizado na época romana, bem como a integridade das estruturas, conferem ao Castro do Castroeiro elevado valor histórico e científico, constituindo um importante testemunho das formas de ocupação do território e das culturas proto-históricas”, refere o documento assinado pela secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, Ângela Carvalho Ferreira.

O vice-presidente da Câmara de Mondim de Basto, Paulo Mota, disse à agência Lusa que esta classificação vai ao encontro de uma pretensão antiga desta autarquia do distrito de Vila Real e que o processo se iniciou já nos 90 do século passado.

A portaria explica que o povoado da Idade do Ferro é composto “por um complexo sistema defensivo constituído por duas robustas cintas de muralhas de planta ovalada, adaptada à topografia local, reforçadas por um fosso escavado no afloramento granítico do lado mais vulnerável”.

Acrescenta que na plataforma central e numa plataforma lateral escavaram-se núcleos habitacionais compostos por estruturas de formas diversas, as quais, juntamente com o espólio cerâmico recolhido, permitem identificar duas ocupações do local.

Foi ainda identificado, na superfície, um “complexo significativo de afloramentos graníticos, insculturas cronologicamente atribuíveis ao Bronze Final, período presumivelmente anterior ao considerado para a edificação do povoado, onde predominam motivos geométricos”.

Tendo em vista a necessidade de proteger o sítio, foi fixada uma Zona Especial de Proteção (ZEP) que tem em consideração a relação privilegiada do castro com a envolvente e com a vizinha Estação Rupestre de Campelo, situada a Norte.

Foi também criada na ZEP “uma área de sensibilidade arqueológica”.

Paulo Mota apontou que a ZEP é uma zona de “imensas figuras rupestres” e considerou que se trata de um “valor patrimonial que está um pouco em bruto, por explorar, divulgar e promover” e considerou que, “há aqui, um potencial enorme para Mondim de Basto.

“Esta classificação vem proteger este património e é, sem dúvida, uma ótima notícia”, frisou.

Paulo Mota lembrou que os anteriores executivos municipais conseguiram proteger este património da “ameaça das pedreiras” e disse ainda que o castro tem sido alvo de várias campanhas de escavação, a última das quais terminou em 2019.

O vice-presidente realçou que o município quer avançar com um projeto, que resultou de uma tese de mestrado e visa “dotar toda esta área de infraestruturas e de condições para potenciar a visitação” do castro e da estação rupestre.

 

CASTRO DO CRASTOEIRO

O Crastoeiro implanta-se à altitude de 453 metros, num pequeno morro que se destaca na vertente Sudoeste do Monte Farinha, sobranceiro ao vale da ribeira de Campos, afluente do rio Tâmega.

A ocupação mais antiga deste sítio poderá remontar ao III milénio a.C., estando materializada por um conjunto notável de afloramentos graníticos com gravuras abstractas, realizadas pela técnica da picotagem e abrasão. Um pequeno exemplar de cerâmica tipo Penha, atribuível ao Calcolítico regional e vários fragmentos, tecnologicamente inseríveis na Idade do Bronze, encontrados nas escavações realizadas no Crastoeiro, poderão constituir indicadores da frequência deste local - eventualmente considerado como um “santuário” - durante estes períodos recuados.

a Idade do Ferro, a partir do séc. IV a.C., o Crastoeiro passou a ser ocupado permanentemente. Cabanas construídas em materiais perecíveis, de que ficaram os restos de argila que consolidavam as paredes e os pavimentos em saibro muito compactado, e fossas abertas no saibro, talvez usadas para conservação dos cereais, são alguns registos desta fase. Mais tarde, levantou-se uma muralha de pedra e as habitações evoluíram para soluções pétreas, mais duradouras, se bem que o modelo de construção primitivo ainda se mantenha.

O sítio deverá ter sido abandonado pelos meados do séc. I d.C., durante a Romanização, podendo ter sido reocupado, por um curto espaço de tempo, na Idade Média.

A visita ao Castro do Crastoeiro, integrada na riqueza histórica e paisagística da Senhora da Graça,  representa não só uma oportunidade para viver uma experiência de elevado valor cultural mas, também, para desfrutar da natureza e compreender a relação do Homem com o meio ambiente na história da civilização.

 

Foto: Crastoeiro | Mondim de Basto Crédito: António Pereira Dinis 



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