Dezenas de lusodescendentes deslocaram-se hoje ao Espaço Portugal, no Salon Partir Étudier à l'Étranger (Feira de estudos no estrangeiro), em Paris, pelo interesse em candidatar-se ao ensino superior em Portugal, um processo que consideram burocrático e complicado.
“Tivemos muita adesão de manhã, principalmente por parte de jovens que estão no 11.º e no 12.º e que estão a descobrir esta oportunidade de poderem voltar para Portugal e vieram-me fazer perguntas porque é um processo bastante complicado”, disse à Lusa Diana Almeida Silva, de 19 anos, responsável pela “quota 7%” na associação de jovens lusodescendentes Cap Magellan.
Para a jovem estudante, que entrou no ano passado na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra para fazer um curso de dupla titulação também em França com a ajuda da Cap Magellan, “há muita documentação que tem de se adquirir” antes da candidatura.
“Acho que são principalmente os filhos de emigrantes que querem voltar ao país, voltar a conectar-se com as suas raízes e é uma muito boa oportunidade, de facto, conhecer as tradições académicas que nós não temos aqui em França”, afirmou Diana Almeida Silva, referindo que “as pessoas não têm muito conhecimento do contingente”.
A Cap Magellan, fundada em Paris em 1991 para promover a língua portuguesa e a cultura lusófona, é responsável pela promoção do contingente especial no ensino superior português, a quota de 7% de vagas reservadas aos jovens lusodescendentes e aos emigrantes portugueses, fazendo um acompanhamento destes estudantes que se querem candidatar.
O evento que se realiza hoje e domingo na Porte de Versailles em Paris, para dar a conhecer as oportunidades aos estudantes do ensino secundário em França, contou também com a participação do Instituto Piaget, Instituto Politécnico de Leiria, Instituto Politécnico de Bragança, a Agência Nacional de Eramus+ e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
No Espaço Portugal, localizado ao fundo do pavilhão e de expositores do Reino Unido, foram passando ao longo da tarde vários estudantes acompanhados dos seus pais, que demonstraram muito interesse de ver os filhos a regressar ao país da sua origem, muitos deles a comunicar em português.
Rafael de Almeida, de 17 anos, veio ao pavilhão com um vasto número de expositores de vários países para “descobrir um pouco sobre o mundo de estudar no estrangeiro e ter mais informações sobre Portugal”, porque para ele a informação disponível na internet não é clara.
“Estou aqui para falar com pessoas que conhecem melhor esta realidade para ter informações sobre o que posso fazer no futuro”, disse, referindo que Portugal “é realmente uma boa oportunidade” por ter família em Viseu, que visita todos os anos e porque se sentiria “muito melhor do que na França”.
Para além de Viseu, o jovem revelou que ainda está indeciso com a possibilidade de poder estudar em Coimbra ou Aveiro, e espera poder usufruir do contingente especial para lusodescendentes.
Para a sua mãe, Carla de Almeida, de 46 anos, o contingente para lusodescendentes “é muito bom, mas a nível administrativo, é muito complicado”, quando comparado “com Espanha, por exemplo, em que o processo de ingresso é muito mais fácil”.
“Sou portuguesa, os meus pais estão em Portugal, e claro que estou a torcer e a fazer tudo para o meu filho estudar em Portugal, porque estudei em Coimbra e sei o que é o ensino português, que para mim faz parte de um dos melhores da Europa”, afirmou Carla de Almeida.
O processo de candidatura “não é muito fácil, temos de aceder a outro sistema diferente do francês, em que não há muita comunicação”, inclusive nas escolas, disse Lili-Rose Deschaux, de 17 anos, acrescentando que “não sabia da reserva de 7% para filhos de emigrantes”.
“Eu estou numa instituição secundária e quero informar-me o máximo possível sobre as possibilidades que disponho quando terminar, o que inclui a oportunidade de ir para o estrangeiro”, disse Lili-Rose Deschaux.
Caso a jovem consiga aceder ao ensino superior em Portugal, nomeadamente para estudar fisioterapia em Leiria, a família pondera mudar-se também para o país.
“A vida em Portugal não é a mesma coisa, sinto falta disso. E o sistema político francês não é muito estável, isso causa-me um pouco de medo. Portugal parece um pouco mais estável”, referiu.
Já a lusodescendente Elyne Bommert, de 16 anos, considera que em Portugal “haverá mais coisas para ver” num país de que gosta muito, nomeadamente se fosse estudar numa universidade perto da casa do seu avô, em Braga.
Para a sua mãe, Marie Bommert, de 53 anos, “o facto de estudar num país estrangeiro permite uma maior abertura” e possibilidades no futuro.
“Se a minha filha quer ir para o nível do trabalho e para o nível internacional, é sempre bom poder mostrar uma experiência estrangeira”, afirmou, referindo que desconhecia a possibilidade de fazer um curso de dupla titulação, que dá a oportunidade aos estudantes de fazer dois cursos em duas instituições diferentes entre Portugal e França.
O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, esteve presente na inauguração do espaço, tendo afirmado que o número de estudantes lusodescendentes e emigrantes portugueses que acedem ao ensino superior português através do contingente especial se tem mantido.
*** Maria Constantino, da agência Lusa ***