O presidente da Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua, Fernando Barros, anunciou esta semana que foi alcançado o acordo que acaba com o impasse do regresso do comboio à desativada ferrovia, aguardado há quase um ano.
Segundo disse à Lusa, o acordo deverá ser formalizado até ao final do mês e as condições ficaram hoje definidas numa reunião, em Lisboa, na Secretaria de Estado das Infraestruturas, que considerou "decisiva" para avançar o aguardado Plano de Mobilidade Turística e Quotidiana, a principal contrapartida pela construção da barragem de Foz Tua.
Depois de meses a discutir quem ficaria responsável pela linha, Fernando Barros afirmou que ficou hoje acordado que a agência, que é a concessionária do plano, será a gestora, o Governo assumirá o financiamento da manutenção e a Infraestruturas de Portugal (IP), que continua a ser a proprietária, assumirá a parte técnica, nomeadamente relativamente às obras de arte.
Fernando Barros escusou-se a adiantar os valores que o Estado irá disponibilizar para a manutenção, remetendo pormenores para a data da formalização do acordo, que aponta para o "final do mês de março".
Este acordo resolve o impasse, mas não implica que o comboio comece imediatamente a circular nos cerca de 30 quilómetros que restaram da linha do Tua, entre Mirandela e a Brunheda.
Será ainda necessário esperar pelos resultados dos testes de segurança em curso ao novo material circulante que o empresário Mário Ferreira, conhecido pelos passeios de barco no Douro e que vai explorar turisticamente esta zona de Trás-os-Montes, tem disponíveis há alguns meses.
Ao comboio turístico juntam-se também barcos para passeios na nova albufeira da barragem, entre a Brunheda e o Tua.
A EDP entregou dez milhões de euros ao empresário para o projeto e para reabilitação da ferrovia, que já foi realizada.
Serão, no entanto, ainda necessárias outras intervenções ao longo do canal da linha, como a retirada de blocos que ameaçam queda nas encostas do Tua e a prevenção de futuros deslizamentos.
Estes trabalhos contemplam a instalação de equipamento informático, através de fibra ótica, "para detetar o movimento de blocos ao longo dos taludes", além de drenagens e reabilitação dos carris entre o Cachão e Mirandela.
A EDP já disponibilizou, segundo o presidente da agência, "3,5 a 3,7 milhões de euros para estes trabalhos".
Falta também saber de que forma será assegurada, neste projeto, a mobilidade às populações ribeirinhas do rio Tua, já que é uma condição imposta como contrapartida pela construção da barragem, que submergiu cerca de 20 quilómetros da ferrovia, cortando o acesso ao Tua e à linha do Douro por comboio.
A Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua é responsável pelo plano e por todos os projetos de desenvolvimento, nela estando representadas a EDP e os cinco municípios da área da albufeira, nomeadamente Vila Flor, Mirandela, Carrazeda de Ansiães, Alijó e Murça.
A barragem, com um investimento superior a 400 milhões de euros, está construída e a produzir energia e, segundo disse recentemente o administrador, Rui Teixeira, "já cumpriu todas as obrigações".
De acordo com dados da empresa, a construção de Foz Tua resultou em compensações que ultrapassam os 30 milhões de euros no território do vale do rio transmontano.
A estes 30 milhões de euros acresce ainda o compromisso da EDP em financiar a Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua, também ela uma contrapartida pela construção da barragem, com 3% das suas receitas líquidas ao longo dos 75 anos de exploração.