Se ainda fosse vivo, Bento Gonçalves, natural de Fiães do Rio, uma pequena freguesia do concelho de Montalegre, teria cem anos. No entanto, Bento Gonçalves, que foi secretário geral do PCP, morreu com apenas 40 anos de idade, vítima de uma doença que se agravou por falta de assistência médica e pelos maus tratos de que foi vítima na prisão do Tarrafal, em Cabo Verde, para onde foi deportado por ordem do regime fascista, contra o qual sempre lutou.
Para assinalar os cem anos sobre o seu nascimento, no passado dia 9, a Câmara Municipal de Montalegre levou a cabo várias iniciativas. A primeira evocação à memória do militante e dirigente comunista foi do presidente da Câmara, Fernando Rodrigues, acompanhado por um histórico elemento do PCP, Jaime Serra, a descerrar uma placa alusiva ao centenário do nascimento de Bento Gonçalves, na rua que, há cerca de dois anos, tem já o nome do militante comunista. Foi um acto simples e ao qual assistiram um grupo muito restrito de pessoas, ligadas sobretudo ao Partido Comunista Português. Num brevíssimo discurso, Fernando Rodrigues aproveitou para justificar a iniciativa, dizendo que é "obrigação" de todos, mas sobretudo dos autarcas, "reconhecer e demonstrar apreço por um cidadão com a dimensão política e social de Bento Gonçalves".
De seguida, já em Fiães do Rio, terra natal do homenageado, foi colocada uma coroa de flores junto do seu busto, que a autarquia mandou erguer naquela freguesia há dois anos, por altura das comemorações dos 25 anos do 25 de Abril.
O programa comemorativo do centenário de Bento Gonçalves terminou com uma sessão solene no salão nobre da Câmara Municipal de Montalegre, que teve como principal orador Jaime Serra. No seu discurso, a que o Semanário TRANSMONTANO teve acesso, o comunista lembrou que a vida de Bento Gonçalves foi "um exemplo de dedicação e de total entrega à luta em defesa dos interesses do povo português, dos trabalhadores e, em particular, da classe operária a que pertencia". E recordou ainda que "o exemplo de Bento Gonçalves se impõe como um desmentido vivo à tentativa de meter os políticos todos no mesmo saco".
Antes de terminar o seu discurso, Jaime Serra citou as últimas palavras de Bento Gonçalves perante o tribunal fascista que, em 1936, o condenou: "o tribunal vai ditar a sua sentença. Que faça o tribunal o que entender. Quanto a mim, mantenho-me nesta convicção: a terra gira".
As actuações de Luís Portugal Trio e da orquestra da Escola Preparatória de Montalegre puseram fim ao programa comemorativo.
Há dois anos, a Câmara Municipal de Montalegre, que, patrocinou também a edição de uma obra sobre a sua vida e obra, coordenada por Enes Gonçalves, também natural do concelho de Montalegre e militante do PCP.