O presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) disse hoje que espera que a destilação de crise possa absorver os vinhos excedentes para que os comerciantes possam ir à vindima comprar uvas aos agricultores.

“O que nós esperamos é que esta destilação de crise venha a absorver os excedentes da Região Demarcada do Douro por forma a que os comerciantes, ao livrarem-se destes excedentes, possam vir à vindima e possam comprar as uvas aos agricultores”, afirmou Gilberto Igrejas, que falava aos jornalistas após duas reuniões, no Peso da Régua, com viticultores e dirigentes da Confederação Nacional da Agricultura (CNA)

Os encontros aconteceram após uma manifestação que juntou centenas de agricultores na Régua, que protestaram contra o corte na produção de vinho do Porto e para reclamar um maior controlo das importações de vinho e o escoamento da produção a um preço justo.

A destilação é um regime de apoio que visa a produção de álcool destinado exclusivamente a fins industriais e tem como objetivo mitigar a crise atual enfrentada pelo setor devido ao excesso de vinho disponível no mercado, a queda no consumo e nas exportações e o aumento dos custos de produção.

Considerando que este é, provavelmente, o último ano em que haverá destilação de crise, o presidente do IVDP lembrou que a medida tem um efeito diferenciador para o Douro.

Dos 15 milhões de euros disponibilizados pela Comissão Europeia, o Douro é a região que recebe a maior fatia (4,5 milhões de euros).

Ao valor destinado ao Douro acrescem mais 3,5 milhões de euros, com origem nos saldos de receitas próprias do orçamento do IVDP, o que permite um pagamento adicional, só nesta região, de 33 cêntimos por litro, num montante total de apoio 75 cêntimos euros por litro.

Os viticultores e dirigentes da CNA que estiveram reunidos com o presidente do IVDP alegaram que a destilação de crise não é uma solução e não é uma medida que chegue aos pequenos e médios produtores.

“É verdade, nós sabemos que a medida de destilação de crise não é uma medida de ajuda direta ao agricultor (…), mas é uma medida que de alguma forma, pela via indireta, ao nós retirarmos excedentes que estão em comercialização, podem propiciar que os comerciantes possam comprar uvas aos agricultores”, explicou Gilberto Igrejas, que referiu que as ajudas diretas aos produtores são “medidas de Estado e necessitam da chancela europeia”.

O presidente da Junta de Ervedosa do Douro, São João da Pesqueira, Manuel Fernandes, disse que saiu desapontado da reunião no IVDP considerando que a destilação de crise “não vai resolver nada”.

“Não é uma solução para as centenas de viticultores que não sabem onde pôr as uvas, não serve. Vamos continuar com as nossas manifestações”, salientou, frisando que o preço a que pagam as uvas “não paga sequer a vindima, quanto mais o granjeio durante todo o ano”.

Vítor Rodrigues, dirigente da CNA, disse que, mais uma vez, o dinheiro não vai chegar a quem produz e referiu que as reclamações de mais controlo às importações e a incorporação de aguardente produzida na região no vinho do Porto ficaram sem resposta.

Gilberto Igrejas salientou ainda que se está a “apertar fortemente com fiscalização no sentido de acautelar que não há entrada de qualquer tipo de vinho ou produto que possa balançar negativamente aquilo que é a expectativa da região nesta matéria”.

Aos viticultores que recebeu, salientou a dificuldade que o setor atravessa, a redução do consumo mundial de vinho, cerca de 15% durante este século, bem como as campanhas que apelam ao não consumo de bebidas alcoólicas.

“Por outro lado, sabemos também, que ao nível da Região Demarcada do Douro, nós temos vindo a comercializar menos vinho do Porto do que aquilo que era habitual”, afirmou, referindo que o benefício fixado para esta vindima “foi o equilíbrio possível”.

O benefício é quantidade de mosto que cada viticultor pode destinar à produção de vinho do Porto e é também uma das suas maiores fontes de receita.

O conselho interprofissional do IVDP fixou o benefício nas 90.000 pipas (550 litros), o que representa um corte de 14.000 pipas em relação a 2023.



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