Trabalhadores remotos de vários ramos de atividade deram nota “positiva” às condições criadas no concelho de Miranda do Douro, onde permaneceram durante uma semana, ao abrigo de uma experiência inovadora neste território e onde desenvolveram diversas tarefas profissionais.

Esta iniciativa partiu da Rural Move – Associação para a Promoção do Investimento nos territórios de baixa densidade, que pretende possibilitar que qualquer pessoa possa viver em comunidades rurais dinâmicas e com pessoas felizes.

“Para que isto seja possível, a Rural Move, em colaboração com pessoas e instituições locais, fortemente comprometidas, cria as condições mais adequadas para a promoção da regeneração humana, economia e demografia das localidades rurais, de modo a promover a diminuição das desigualdades económicas e sociais e proporcionar às comunidades rurais a oportunidade de atingirem o seu potencial máximo,” explicou à Lusa Andréa Barbosa, gestora da rural Move de Miranda do Douro, no distrito de Bragança.

Ao longo de uma semana, que termina hoje, 15 trabalhadores remotos de vários pontos do país e estrangeiro permaneceram no Centro de Formação Agrícola de Malhadas onde trabalharam à distância em áreas como investigação científica, tradução, consultoria, design, entre outras áreas económicas e do saber.

Para Sávio Lemos, um trabalhador remoto oriundo de Fortaleza, no Brasil, a permanência no concelho de Miranda do Douro foi uma agradável surpresa, por se tratar de um território diferenciado, onde se destaca a beleza natural e a sua cultura peculiar.

“Já viajo por Portugal há um ano, mas, chegado aqui, [Miranda do Douro], desde logo me apercebi que há várias opções para trabalhar nas aldeias deste concelho e que vão desde a gastronomia à viticultura. Outros dos pontos fortes é que Miranda do Douro está muito próxima de Espanha, o que ajuda a potenciar o contacto com este país”, vincou.

Sávio Lemos apenas apontou um “pequeno senão”, relativamente às infraestruturas de acolhimento, já que se trata de uma região fria, sendo importante ter espaços de trabalho mais “aconchegantes”. No que respeita à transmissão de dados, o participante garantiu que não sentiu dificuldades.

Este trabalhador remoto desenvolve a sua atividade profissional na área da consultoria e comunicação estratégica para marcas ou empreendedores.

Já Rúben Oliveira, que veio de Oliveira do Bairro, no distrito de Aveiro, fez um balanço “bastante positivo” desta experiência e que ficou “acima das expectativas iniciais”.

“Tivemos a oportunidade de desenvolver um trabalho de forma normal, como se estivéssemos na nossa casa, e ao mesmo tempo de conhecer um novo concelho através um leque de atividades pós-laborais, desde a língua mirandesa, passando por outras atividades locais e a envolvência natural do Douro Internacional”, vincou.

Rúben Oliveira desenvolve trabalhos na área da biotecnologia que se dedica ao 'design' de plataformas tridimensionais para a cultura de células.

Também Andreia Proença, que veio da Guarda, explicou que há condições para se trabalhar remotamente no interior onde apenas há dois elementos fundamentais: a velocidade da internet e as condições do espaço de trabalho.

“Contudo, o mais importante, é aquilo que levamos, é o saber das pessoas que integram estas comunidades rurais. É neste sentido que um território como este deve investir, como outros de baixa densidade populacional. É importante que depois do horário de trabalho haja atividades complementares para se criarem pontes entre as pessoas nómadas e os residentes, sendo este fator super importante”, enfatizou.

Para os promotores da iniciativa, o círculo vicioso de desequilíbrio social e económico é um dos “grandes desafios” destes territórios de baixa densidade em Portugal e Miranda do Douro não é exceção.

“Nas últimas décadas, o que tem acontecido é que este território tem perdido população, como é caso de Miranda do Douro, que na última década perdeu 17% e tem uma pulação e cada vez mais envelhecida, apenas com 24% dos residentes com menos de 24 anos”, vinca Andréa Barbosa, da Rural Move.

Nas próximas semanas será apresentado um diagnóstico da presença destes 15 trabalhadores remotos no concelho raiano de Miranda do Douro.

A organização desta experiência piloto de âmbito rural esteve a cargo da Associação Rural Move e do município de Miranda do Douro, que desde 2020 têm colaborado na promoção e dinamização deste concelho raiano como território aberto ao investimento e a novos residentes.

Francisco Pinto, da agência Lusa



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