Luis Ferreira

Luis Ferreira

Aparentemente sem interesse

Depois de um tempo onde as férias marcaram o ritmo e pouco se disse, esperava-se que o regresso a uma normalidade política e social condicionasse o dia a dia dos portugueses. Mas não. Se antes das férias assistíamos a algumas novelas, agora continuamos com a assistir às mesmas e cada vez com menos interesse.

Na realidade, se o Orçamento marcava alguma normalidade nas discussões entre partidos, a novela continua sem fim à vista, mas onde todos querem tirar dividendos e chamar a si todo o interesse da discussão e a resolução vitoriosa da sua aprovação. Os protagonistas são os mesmo e nesta fase parece que nenhum partido se importa com a possibilidade da não aprovação e remeter tudo para uma governação por duodécimos, já que em novas eleições ninguém está interessado. Todos têm alguma coisa a perder. Uns mais do que outros. Os mais destemidos até afirmam não ter medo de ir a eleições! Mas os duodécimos não é uma solução aconselhável devido à incerteza económica que arrasta para além dos apertos sociais que gera. Seria uma solução terrível e um desinteresse por Portugal e pelos portugueses que os partidos protagonizariam. Mas o que parece ser certo é que os partidos querem fazer fica pé nas suas posições numa demonstração de força vocacionada à submissão dos partidos do governo e este, especialmente o PSD, também a não querer quebrar o fio da novela que o trouxe até aqui, com receio da novela ficar sem interesse. Deste modo, a novela pode continuar mais algumas semanas.

Outra novela é a questão das gémeas. À falta de matéria mais interessante, continuamos a assistir à mesma trama, com os mesmos personagens e a um desenrolar de uma história gasta e sem fim à vista, que nos cansa a todos. Parece que se quer enforcar alguém, seja quem for, por ter acendido um cigarro em lugar proibido a fumadores. Dão a entender que querem encostar Marcelo à parede através do filho embora o interesse não pareça estar especialmente no filho de Marcelo, mas em mais alguém. Já espiolharam tudo e já ouviram todos os intervenientes no processo e, para que a novela continue, volta-se às inquirições parlamentares e às perguntas e respostas por vídeo conferência. É uma novela com três espaços diferentes, mas onde os personagens nunca se encontram. É uma novela de políticos para políticos que nada mais de interessante têm para discutir. Vieram de férias sem ideias nenhumas! Verdadeiro vazio!

E como os políticos nada têm de interessante para apresentar ou pelo menos nada de novo, alguma comunicação social brinda-nos com algumas ideias também elas gastas e cansativas, com a intenção de distrair os portugueses nas noites e talvez nas tardes, desviando-os das politiquices desinteressantes. Regressa à TV mais uma Casa de Segredos onde a Voz marca o ritmo e fiscaliza os concorrentes. Cansados, ou talvez não, de Dilemas e de Big’s, os portugueses confrontam-se agora com segredos e adivinhas de duas dúzias de concorrentes armazenados numa casa onde tudo lhes dão, nada fazem, e ainda lhes pagam para isso. Aliás, pagamos todos nós. Personagens já conhecidos e outros menos vistos, vão tentar distrair os portugueses com as suas discussões e brincadeiras, num vazio cultural imenso, mas que pouco difere do vazio político em que vivemos atualmente neste período após férias. Nada de novo! Será que ninguém tem ideias novas?

Mas podemos procurar outras vertentes onde o interesse pouco difere. Depois do deslize que o Benfica teve neste início de campeonato que culminou com o despedimento do treinador, eis que Rui Costa procurou inovar, mas não conseguiu e acabou por ir buscar o mesmo treinador que foi despedido há quatro anos atrás. Mais do mesmo. Nada de novo e nada de interessante, mesmo com a vitória deste fim de semana que, diga-se de passagem, começou por ser um arrepio enorme tanto para o Bruno como para Rui Costa. Enfim.

Mas voemos para mais longe. Uma coisa nova foi a capacidade do Iémen lançar um míssil e atingir uma estação de caminhos de ferro de Israel. É verdade. Então onde estava a cúpula de ferro de Israel? Parece que falhou. Pois no pano mais branco cai a nódoa. Contudo se isto é uma novidade até certo ponto, nada de novo se passa com o líder israelita que mantém o discurso gasto de querer acabar com o Hamas e com o Hezbollah. Nada de interessante já que tudo continua na mesma e se esta guerra acabar agora, Netanyahu iria a tribunal e certamente para a prisão de onde anda a desviar-se há muito tempo. Manter uma guerra sem sentido, se é que alguma guerra tem sentido, é a única razão para poder ser livre, mesmo à custa de milhares de inocentes. Esta novela não tem sentido algum e também aqui, os personagens principais não se encontram. É uma novela completamente desinteressante e desnecessária para além de sanguinária. O único interesse é saber quando termina e qual o final.

Já agora por falar em guerras, voltemos a outra novela sem interesse e que nada de novo nos tem trazido. A guerra entre Putin e a Ucrânia. Com algumas variantes, desenrola-se com os mesmos personagens e mantém-se enigmático o final. A única novidade é que parece que Putin mostra algum receio face aos avanços de Zelensky, o comediante e ator que se tornou político e governante. De resto a novela não tem interesse!



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