Teresa A. Ferreira

Teresa A. Ferreira

Tributo ao Dr. José Gama

O que me traz hoje aqui, é a justa e merecida homenagem ao Dr. José Gama - o melhor Presidente da Câmara que Mirandela teve -, e só esteve 6 anos à frente dos destinos da autarquia. Se ainda estivesse entre nós, faria hoje 82 anos. Nasceu a 2 de março de 1942, na aldeia de Mascarenhas, freguesia do município de Mirandela.

Ninguém foi capaz de continuar tão valerosa obra - bem pelo contrário -, continuam a desfazer o que este Grande Homem conquistou para Mirandela. Chego a crer que lhes dá especial gozo destruir a sua obra (acabaram com a prova do campeonato mundial de Jet Ski, acabaram com o metro de superfície, destruíram alguns jardins, o hospital mais parece um centro de saúde - desprovido das principais valências…).

Foi eleito Autarca do Ano em 1995.

Deixou obra variada, mas perdoem-me se me olvidar de alguma coisa:

- Ponte Europa e Espelho de Água com repuxo, mais conhecida como ponte açude e toda a sua envolvente, desde logo os acessos e o Parque do Império e o Anfiteatro;

- Os jardins, onde tiveram grande destaque espaços ajardinados com relva, roseiras, tulipas, oliveiras, palmeiras, buganvílias vermelhas, jacarandás que acabaram por secar porque não se adaptaram ao rigor do inverno, etc., e os seus muros de xisto que tanto caracterizam o povo transmontano;

- Metropolitano de superfície;

- A escola de música Esproarte;

- Avenida da Galiza junto ao hipermercado Feira Nova;

- O Ensino Superior Público e Privado (Instituto Jean Piaget);

- Ponte de Chelas. Embora a proximidade de Chelas a Mirandela seja muito menor as pessoas tinham de percorrer cerca de 20 km;

- Facilitador no desbloqueio das obras do IP4;

- Facilitador do início da construção da Urbanização D. Dinis e do Hotel;

- Instalação de 5 lagares de azeite que tão bem representam a região. De registar que os lagares foram oferecidos, inclusive um por um Sr. De Alfândega da Fé (o gosto que as pessoas tinham, ofereciam);

- Entre os monumentos e estátuas foram instalados 21 por toda a cidade. Destacam-se as “noras”, rotunda da pirâmide, rotunda da nora, monumento à Comunidade Europeia; e das estátuas, destacam-se: as bailarinas (Parque do Império), homenagem às Mães, a princesa do tua, a família emigrante, o Papa, a menina e a pomba, entre outras;

- A construção do Café Espelho de Água (junto à Ponte Velha);

- Parque de campismo da Maravilha e a construção da piscina, uma das maiores do Norte;

- Embelezamento do espaço junto à Câmara Municipal, incluindo a reconstrução da Igreja de Nossa Senhora da Encarnação e a estátua do Papa;

- Garagem de camionagem e acessos, incluindo o muro de xisto em frente à estação;

- Campeonato Mundial de Jet Ski no Espelho de Água;

- A volta a Portugal em bicicleta teve início em Mirandela;

- Obras do Mercado Municipal com parque de estacionamento no piso inferior;

- Fixação do ninho de empresas;

- Fixação da Inatel;

- Obra de ampliação do Hospital de Mirandela (inaugurada no mesmo dia da ponte açude 30-07-1993);

- Facilitou a instalação do Feira Nova;

- Parque de estacionamento junto à Ponte Nova;

- A Zona Verde e Restaurante Flor de Sal, tendo deixado a expropriação do terreno e o financiamento aprovado;

- A urbanização do LIDL ainda foi idealizada por ele e outras mais.


Escreveu-me um amigo, que com ele privou, pedindo o anonimato:

“Teresa, o que havia naquele Homem era coisa ímpar. Criado numa aldeia como muitos outros, estudou no seminário, foi tropa no ultramar (oficial ranger, tropas especiais); estudou direito em Coimbra e quando acabou o curso estava empenhado. Depois foi para os “States” que lhe deram uma visão muito à frente.

Mas é sobretudo do caráter do seu Presidente ou da falta dele que um concelho pode ser GRANDE ou “piquerruchinho”. O Dr. Gama, com quem tive ainda o privilégio de trabalhar como autarca, era um homem inteligente, mas dum caráter ímpar (quase ao ponto de palavra dada palavra honrada). Quando decidia era para começar no minuto a seguir e disto nunca mais conheci.”


Deixo-vos com o testemunho de um grande amigo, Prof. Doutor Fernando dos Reis Condesso:

“EM MEMÓRIA DO DR. JOSÉ GAMA

José Gama, jurista, autarca, deputado, entre ou atividades, teve um percurso que nos aproximou a partir do dia em que ambos, alunos em regime de “voluntários” e lidando com problemas de serviço militar obrigatório, sem podermos assistir a aulas, nem frequentar a universidade, deparámos simultaneamente com uma pauta colocada nos locais de estilo, na Faculdade de Direito de Coimbra. Ambos constatando, ao mesmo tempo, que, na última cadeira da licenciatura, direito criminal, havíamos já terminado o curso, face à prova escrita. Conversa puxa conversa e logo há valores que ressaltam. Logo constatando que, tal como ele, na sua experiência conventual em seminário de ordem religiosa, eu também frequentara estudos eclesiásticos, embora na diocese e Seminário Maior do Porto. A minha saída foi mais tardia, após um mais longo percurso, em tempos em que convivera longamente com toda a dinâmica dos “cursinhos de cristandade” e, depois, decidi sair, sem terminar a teologia, e quando, como aluno mais classificado do curso, me preparava, a pedido do respetivo Administrador Apostólico, para seguir para a Universidade Pontifícia de Roma, para aí completar estudos e preparar um doutoramento em direito canónico, antes de, depois, fazer direito em Coimbra. Algo a que viria a renunciar, oficialmente, em fevereiro de 1967, último ano de licenciatura em filosofia pela Faculdade da Ordem dos Jesuítas, de Braga, dirigida pelo Padre Bacelar, depois integrada na Universidade Católica. Data em que, em termos de provas públicas, apenas contava com o segundo ano no Liceu Alexandre Herculano. Por imposição da família, após passar nos mesmos exames no Seminário de Trancoso, em Gaia, aí me apresentara. Sem grandes contactos com o ensino público, ao dispensar das provas orais. Não mais voltaria a um estabelecimento escolar de ensino secundário, senão ao desistir da vida eclesiástica. Tive, por isso, de me preparar para provas do terceiro ao sétimo anos no Liceu onde vivia, Braga. E, na dúvida sobre por que curso superior seguir, apresentei-me, mesmo no último ciclo, nas duas áreas, letras e ciências, o que, a dispensa a orais em todos os exames de escritas, me deu acesso imediato e direto na área por que acabei por optar. Em parte por pressão familiar e em parte devido à assistência a um julgamento em direito penal no tribunal local. Face à elevação e raciocínio e pendido durante cerca de uma hora por parte deste catedrático de Lisboa, que me impressionou intelectualmente.

Daí, termos seguido caminhos semelhantes.

E o meu nome na pauta Condesso despertara curiosidade no Dr. José Gama, de que me apercebi, pois ele tivera um colega conventual da Ordem religiosa em que estudara, visando também a ordenação sacerdotal. Dito o facto, conversámos, ficámos amigos, contámos histórias semelhantes de recentes desencontros amorosos com namoradas académicas e de povoado. A tropa e a guerra colonial, ele; eu, a mudança de residência e local de estudo. Ambos face a dificuldades de comunicação e deslocação. Eu seguiria para a magistratura e tropa. Ele regressara do ultramar e entraria em gabinetes ministeriais. O que, com o fim do Estado ademocrático, o atiraria para o estrangeiro, face a perseguições. Algo que o seu ministro das corporações de então, não sentiu tanto. Nos EUA, comeu o pão que o diabo amassara, até trabalho em casas de banho públicas teve de aceitar no início para sobreviver. Embora acabando por criar grandes amigos. Referindo as suas experiências e conhecimentos, ele não deixaria de confessar-me: "adoro a América, mas não prezo os americanos". Fuga e traumas que acabariam por ultrapassar, ele no CDS, que viria a dirigir em Coimbra, e o ministro de Marcelo Caetano, no PS; ambos chegando rapidamente ao parlamento português e ele também ao europeu, onde voltámos a conviver. Aí tivemos debates assíduos, embora ele vivesse em Bruxelas e eu apenas me deslocasse para falar no Grupo Parlamentar, hemiciclo, comissões, AP de CEE-ACP ou Intergrupo Federalista Europeu, a que cheguei a presidir e representar em Roma, nos 30 anos da criação da Comunidade Económica Europeia. Antes, diferentemente dele, eu havia entrado na cofundação do PPD, depois PSD, no início de Maio de 1974, pela mão de Pinto Balsemão, criando os núcleos concelhios do distrito de Santarém e levando à adesão de muitos quadros conhecidos no distrito de Leiria, e dirigindo o núcleo de Torres Novas, aí discursando semanalmente, até às eleições constitucionalizadoras, para pessoas que se queriam filiar e conhecer justificadamente as linhas programáticas do partido, rapidamente deixando de frequentar reuniões do MDP. Ele e eu viríamos a receber condecorações honoríficas estrangeiras, na mesma altura, embora por razões distintas. Eu acabaria por deixar a vida parlamentar em 1995 (para seguir a carreira universitária em Lisboa e no estrangeiro), quando ele reentrava em força na atividade política. Mas continuámos a conviver e a debater temas da política nacional, supranacional e intergovernamental. Estava no nosso ADN, embora tendo perspetivas, por vezes diferentes. Comungando apenas das teses sociais de Leão XIII. Mas eu politologicamente sempre bernsteiniano ou quase rosaluxemburgo, economicamente neokeynesiano, myrdakiano, anti-hayekiano (no plano social global, embora no de uma reducionista visão meramente em raciocínio económico apreciasse a sua defesa de que se uma economia se quer livre do Estado quando corre bem, coerentemente não pode pedir aos contribuintes que salvassem as empresas nos maus momentos, o que elas deveriam resolver por si, com os lucros anteriores; ou seja, se não há Estado, não há nunca Estado); e embora interessado em análises de Marx, rejeitava as ditaduras de esquerda, no modelo exportado pelo poder soviético ou maoísta.

José Gama foi ficando na política. Eu viria a abandoná-la. Depois de, pelo caminho, ter deixado o convite de Mota Pinto para ministro da Justiça no governo central PS-PSD, quando convidou e na presença do prof. José Augusto Seabra para a Educação (rejeição que levaria Almeida Santos a cumular com os Assuntos Parlamentares também com esta função), e posteriormente ou a rejeitar a hipótese avançada pelo então Ministro do Trabalho e grande obreiro do difícil processo de retorno dos portugueses das antigas colónias, Prof. Amândio de Azevedo, para eu ser presidente do parlamento; apenas tendo aceite, pressionado pelos deputados mais prestigiados, ser presidente do grupo parlamentar; mas neste caso, só se tivesse mais de 2/3 dos votos e não tivesse nenhum voto negativo, e assim assumi o cargo; tal como antes aceitara presidir a comissões permanentes ou ser relator nas de inquérito (aqui, fazendo-me substituir discretamente, quando sofria sugestões de branqueamento, prática instalada que desrespeita a real missão parlamentar).

Quando José Gama adoeceu mortalmente, estávamos preparando listas para as eleições municipais em Mirandela, terra dele e onde eu lecionava, a seu pedido, filosofia num curso superior do Piaget, encabeçando ele o do "executivo" e eu a da assembleia municipal, juntamente com o Eurico de Figueiredo.

Poderia referir muitos episódios, que definem a personalidade moral e social do José Gama. Lembro três.

Decidindo candidatar-se a Mirandela, pede-me que venha passar o fim de semana a sua casa e, no momento de se ir apresentar no anunciado salão de reuniões, bem perto da sua casa, decide não ir a pé e diz-me: tenho o meu mercedes na oficina, preciso do teu. Admirado com uma patente manifestação de "posses", interroguei-o, no fim da apresentação programática, ao que respondeu: pretendi significar que vivo bem e com posses, não necessito de desempenhar funções públicas para ganhar dinheiro, o que me move é fazer coisas pelo progresso local, com a experiência e conhecimentos adquiridos nos EUA e na Europa.

Antes, ainda no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, tendo jantado juntos na véspera de um debate em tema complexo e polémico em que nenhum de nós estava inscrito para falar, falámos mesmo assim sobre ele, e ouvindo posteriormente o discurso de um colega, percebi que este, sempre muito atarefado e brilhante orador, lera um texto escrito pelo José Gama (apoio o que seria natural ou por colega ou por assessor do grupo parlamentar) interroguei-o e ele negou, só depois tendo sido confirmado o facto pelo próprio colega de bancada.

Em certa altura, sofrendo ele de doença grave e recolhido a um convento de freiras em longo período de convalescença, e aí tratado por uma belíssima mulher "com votos", sentira os fortes impulsos dos afetos, mas nunca teve coragem de tentar desviar a monja, "raptando-a", apesar dela dar mostras de reciprocidade, e lamentando a sua inibição ao ter respeitado o que seria, no fundo, ou julgava ser, a verdadeira opção de vida dela já amadurecida, ao tomar conhecimento que ela afinal acabaria por abandonar o convento para se casar com um empreiteiro que esteve a fazer obras nesse convento, terminava dizendo: o que importa e espero é que ela seja feliz.

Em 1993, escrevi um livro sobre a Lei n.°65/93, de 26.8, cujo projeto na globalidade fora da minha autoria (e tinha a suportá-lo a investigação, não só jurídica, leis e jurisprudências dos EUA, Francesa e Sueca, como politológica, de modo que constitui um dossier que, aprovada a lei, um editor me pediu para publicar, com alguma arrumação capitular, mas, muitas vezes, demasiado prolixo, para além de deficiência na impressão da bibliografia, e que sendo de leitura útil para o cidadão em geral, é excessivamente explicativo face a matéria virgem para os juristas nacionais, merece bem a classificação de prolixo, que depois Barbosa de Melo lhe referia, quando, citado no texto e questionado sobre se já o tinha lido na totalidade, conversa que José Gama me transmitiria, julgando adoçar a conversa, diz-me que ele gostou muito da profundidade da análise do tema pela sua importância, embora por vezes algo prolixo.

No Parlamento Europeu, ele convivera dominantemente com políticos espanhóis do seu grupo, o que levou o deputado Fraga Iribarne, depois Presidente da Galiza, que era visita de sua casa em Mirandela, a apoiar a minha candidatura, como peninsular, à direção da Assembleia Paritária da Convenção de Lomé, que reunia cerca de metade dos Estados do mundo; tal como influenciou a minha vitória folgada com apoio de deputados de várias nacionalidades a membro da recém-criada subcomissão de defesa nacional e prestadíssima Comissão Constitucional do PE, presidida pelo célebre comunista e ex-comissário italiano Altiero Spinelli, comissão a que mais tarde também acederia o Prof. Medeiros Ferreira, sempre presente com o seu brilhantismo parlamentar, e que ao Dr. José Gama também merecia grande apreço político e pessoal, sendo que fora grande obreiro da adesão de Portugal ao projeto europeu.

Naturalmente que, regressados de Estrasburgo-Bruxelas, eu apoiá-lo-ia na candidatura a presidente da Câmara de Mirandela pelo CDS e a posterior adesão dele ao PSD. Juntos e com meu filho Ricardo, participámos e discursámos em cerimónias do Dia de Portugal nos EUA, onde chegámos a comprar casas, junto de instituições universitárias, para os respetivos filhos poderem estudar nos EUA.

José Gama viria a candidatar-se, com meu apoio e do prof. Barbosa de Melo, à Câmara de Coimbra, em campanha de grande dignidade, e que apenas se frustrou por margem pequena face a obras de última hora, em povoação marginal do concelho, por parte do presidente instalado, ganhando significativamente na cidade e outros centros populacionais.

A doença que o viria a vitimar revelou-se numa caminhada de fim de tarde comigo, juntamente com uma aluna minha de doutoramento, no Jardim da Parada, em Campo de Ourique, em Lisboa, onde eu habitava. Doença que o levaria ao hospital do Porto e, segundo o nosso amigo o médico Dr. Monteiro Batista, a um falso diagnóstico e receitas de cortisona. O que permitiu ir para os EUA, com a intenção de refazer toda a sua vida pessoal, dado que eliminara a sintomatologia; até que, alertado posteriormente por análises disruptivas, regressou a Portugal e ao Porto, para tratamento de leucemia. Desafio que perdeu já no início deste século.

Homem de fácil empatia e interação. Homem de valores que seguia com tranquilidade, bebidos no cristianismo, era profundamente avesso à ganância de uns e à imparcialidade, corrupção e deméritos, que hoje campeia na classe política. Era um dirigente que dava o exemplo. Toda a vida tentara afastar o irmão, expulso de seminário nacional por problemas mentais, os quais aliás as televisões, ainda nestes anos, têm noticiado.

A nossa amizade pessoal e familiar foi um exemplo que mostra bem como pessoas, com opções diferentes ou nem sempre coincidentes no campo da política, umas mais social-democratas, abertas a grandes mudanças ou democratas-cristãs no plano social, outras mais conservadoras ou mais apegadas a visões meramente economicistas, como se a economia não se fizesse e vivesse na sociedade e para ela, podem ser grandes amigos e apoiar-se em momentos de exercício de funções públicas, que mais patentemente revelem as diferenças, que faz com que muitas vezes, tendam a ocultar ou esquecer o que os une no plano dos grandes desafios e objetivos sociais e políticos.

Na função municipal, em Mirandela, era o primeiro a chegar ao trabalho, não sem ao romper do dia percorrer antes as suas ruas e jardins, a ver se havia problemas a resolver, a saudar os trabalhadores que apareciam nos seus horários, os que começavam a abrir os seus estabelecimentos. Exigente com ele e seus colaboradores nas funções públicas, renovou muito o município e deu nova vida à sua sede.”


A sua biografia elaborada pelo Dr. Jorge Joaquim Lage:

“José Augusto Gama

Nasceu em Mascarenhas, concelho de Mirandela, em 02.03.1942 e faleceu em 09.10.2000. Era filho de José Joaquim Gama (natural de Mascarenhas guarda rios e ferrador nas horas vagas) e de Natividade da Conceição Corujas (natural de Mascarenhas doméstica).

Foi o antepenúltimo nascimento de oito irmãos (ainda vivos): Maria de Jesus (doméstica) Aurora (doméstica), Mário (professor do politécnico), Fernando (empresário), Bernardete (doméstica), Humberto (sacerdote), Alda (doméstica) e Manuel Luís (licenciado em História professor radicado em Coimbra).

Fez a instrução primária na aldeia natal e a seguir frequentou o Seminário dos Jesuítas em Macieira de Cambra, que abandonou cinco anos mais tarde. Foi professor no Seminário de Balsemão. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Casou se, em 1964, com Alda Beatriz Caseiro Branco (também natural de Mascarenhas licenciada em Farmácia). Deste enlace nasceram três filhos em Coimbra: Rafael (licenciado em Direito e assessor do Secretário de Estado das Comunidades), Paula (licenciada em Germânicas) e Cláudia (licenciada em Farmácia).

Os últimos cinco anos da sua vida teve por companheira Emília Galante (natural de Coimbra), que o acompanhou sempre nos momentos difíceis do final da sua vida e foi de uma abnegação e carinhos inexcedíveis, principalmente durante o período da terrível leucemia, à qual sucumbiu depois de uma luta corajosa e dolorosa. José Gama cumpriu o serviço militar na ex-Província de Cabo Verde e foi oficial miliciano (Ranger). Foi um dos oficiais milicianos do Exército Português mais louvados da sua geração. Foi inspetor do Ministério do Trabalho e à data da Revolução do 25 de Abril de 1974 era Secretário do Ministro do Trabalho, Pinto Cardoso, facto que o obrigou a emigrar para os Estados Unidos da América. onde contou com o apoio amigo de Veiga Simão. Ali escreveu o livro "Protesto dos Emigrados" e conheceu a dureza, o sucesso e a amizade dos emigrantes portugueses em terras do Tio Sam. Foi Diretor do jornal Portuguese Times, de Newark, tendo ainda programas na rádio e televisão.

Em 1979 regressa a Portugal, filia se no CDS (Centro Democrático e Social), sendo eleito Deputado à Assembleia da República pelo círculo fora da emigração, fora da Europa e mais tarde Deputado ao Parlamento Europeu. Conduziu, com sucesso, a libertação de Quatro caçadores guias portugueses na Tanzânia, quando se temia o pior pelo seu futuro. Em articulação com o Engenheiro Anacoreta Correia, no princípio da década de oitenta, conduziu a libertação do primeiro grupo de prisioneiros portugueses, aprisionados na Jamba Sul de Angola, pela UNITA.

Em 1989 candidata se à Câmara Municipal de Mirandela, pelo CDS, vencendo com maioria absoluta, começa o período mais fulgurante da sua vida política. Em seis anos vira Mirandela do avesso, isto é, "pôs Mirandela no mapa", tornando a mais conhecida e visitada. Neste período fez de Mirandela a "cidade jardim", devido aos muitos jardins com que a dotou.

Outras obras marcantes foram: o Espelho de água, a Ponte Europa, o Metro de Superfície, a emblemática Ponte de Chelas, o Parque de Campismo, a enorme Piscina Municipal, o Pavilhão do INATEL, o atrevido Repuxo, a construção das três igrejas das três paróquias da cidade, a Zona Verde da margem direita do Tua, a modernização do Mercado Municipal, as inúmeras obras de arte da cidade, os acessos ao IP4, as rotundas, os parques de estacionamento e a reabilitação das oliveiras, do granito e do xisto. Em 1995, pelo reconhecimento da sua obra, muito gabada pelo líder do PSD e Primeiro-ministro, Prof. Cavaco Silva (que lhe foi muito ingrato), foi eleito "autarca do ano", prémio recebido no Casino do Estoril.

Neste mesmo ano, já pelo PSD, deixa a autarquia mirandelense para ir ocupar o lugar de Deputado à Assembleia da República, lugar que conquistou como cabeça de lista pelo círculo eleitoral de Bragança. Em 1997 candidata-se à Câmara Municipal de Coimbra, a convite do líder do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, aliciado por um futuro lugar de deputado ao Parlamento Europeu, mas não cumprido. Durante a campanha autárquica coimbrã teve a oposição demolidora, não do candidato do PS. mas dos "barões" locais do PSD. Apesar de tudo, fez ali subir o partido dez pontos percentuais, deixando o em excelente posição. Empenhou se, em 1999, com o movimento cívico "Portugal Plural", no referendo pela Regionalização (que foi derrotado), contra a vontade do PSD, sonhando com uma autonomia de cabeça erguida para Trás-os-Montes. Perante estes resultados e alguma animosidade do líder do PSD, suspende a atividade partidária e funda, com Eurico de Figueiredo e Fernando Condesso, entre outros, o novo movimento cívico "Portugal Radical". Mas José Gama, muito viajado pelos quatro cantos do mundo, tem um currículo brilhante no campo político e social.

Foi Vice-presidente da Associação Nacional de Municípios, auditor da Defesa Nacional e professor convidado de Direito Internacional Público da Universidade Moderna, condecorado com a Cruz de Santo António do Deserto e, em 1999, com o Grand Marshall (sucedendo a Amália Rodrigues e a Ramos Horta), na Parada do 10 de Junho, em Newark USA, pela Fundação Luso Americana, Bernardino Coutinho. Foi ainda Presidente e Sócio Honorário de várias associações luso americanas. Em 2000, para se furtar à intriga mesquinha, à maledicência e às mentiras alimentadas pelo atual lobby camarário mirandelense, retira se para New Mildford, nos USA, para neste local pacato e idílico (Candelwood Lake), escrever o livro "De Nova Iorque a Mirandela". Mas como ele diz neste livro inacabado, "a doença fizera me unia espera, reduzindo a dúvidas e cinzas os campos dos sonhos sem fronteiras", porque "um cancro (leucemia) trava comigo uma luta feroz, serre quartel", ceifando-lhe a vida, após três meses de imenso sofrimento, no Hospital de S. João no Porto, assistido, com dedicação. pelo médico Jaime Sá.

Este seu último livro é um testamento político, "para que os mirandelenses soubessem o que penso deles em vida". Sobre o mesmo escrevi na imprensa: "O pormenor com que critica erros, defende soluções e descreve o nascer e concluir da sua obra,... fazem deste livro uma consulta obrigatória, para quem deseja gerir, com equilíbrio, um município ". Eurico de Figueiredo refere no prefácio, "a determinação, dignidade, frontalidade. qualidades, que os transmontanos atribuem a eles próprios, encontram em José Gama uma espécie de incarnação do mito". José Gama foi um tribuno brilhante, que se inflamava sempre que apelava ao telurismo das suas raízes transmontanas: "Continuo simples caminheiro. de atalhos de terra batida, cor testas alpergatas que o povo calça e conhece". O maior autarca de sempre de Mirandela, faleceu quando ainda muito tinha para dar em prol da nossa região.

A Câmara Municipal de Mirandela, não tendo a coragem de o homenagear em vida. durante a doença, acabou por o fazer no período mais sensível do nojo e dor. Manifestou-lhe a gratidão pela obra deixada em Mirandela e pelo desenvolvimento que imprimiu ao município. Atribui-lhe a medalha de ouro da cidade, a título póstumo; à Zona Verde da Margem Direita do Rio Tua passa a ser chamado "Parque Dr. José Augusto Gama"; e por desejo de muitos mirandelenses disponibilizou um local nobre para aí lhe ser erguida urna estátua.”

Jorge Lage

In ii volume do Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses, coordenado por Barroso da Fonte, 656 páginas


© Teresa do Amparo Ferreira, 02-03-2024
   𝙉𝙖𝙩𝙪𝙧𝙖𝙡 𝙙𝙚 𝙏𝙤𝙧𝙧𝙚 𝙙𝙚 𝘿𝙤𝙣𝙖 𝘾𝙝𝙖𝙢𝙖,
   Mirandela, Bragança, Portugal.


Foto: José Augusto Gama 



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