“Entrevista com Diogo Seixas mais conhecido pelo nome artístico D-Lay, é um rapper Vilarealense, que desde muito jovem teve um gosto enorme pela musica. Aos 16 anos de idade começou a cantar e a produzir as suas músicas e foi aos 29 anos de idade que D-Lay, decide lançar o seu primeiro EP - intitulado por “O Amanhã não espera”, escolhendo para o seu lançamento o dia 25 de abril, pois para D-LAY este dia simboliza a liberdade, e como tal, sendo um dia de muita importância decidiu escolher este dia para mostrar a sua liberdade em exprimir as suas criações.
É um EP que conta com participações especiais desde o Fuse dos Dealema, Dizzy dos Som mudo, Kadypslon, entre outros… Ep que contém os temas Meu Mano e Senhores da Guerra, os grandes êxitos do seu primeiro projeto. D-LAY, produziu, compôs todas as faixas de um EP- considerado uma retrospetiva do cantor. No dia 19 de setembro de 2019 o rapper colocou disponível o videoclipe: Meu Mano, que obteve um ótimo retorno dos seus faz.
AP: D-Lay. Como é que se chama, o seu nome próprio?
D-Lay – Diogo Seixas.
AP: Diogo. E optou pelo nome artístico de D-Lay, onde foi buscar esse nome? Onde é que surgiu essa ideia?
D-Lay - Primeiro porque Diogo tem a abreviação "D", e "Delay" porque remete um pouco ao passado, e eu que sou uma pessoa muito saudosista e gosto muito de reviver as coisas. Daí o nome ficar D-Lay.
AP: Que idade é que tem?
D-Lay - 30 anos.
AP: Você faz hip-hop e rap. Em que é que se encaixa a sua música? A sua forma de transmitir as suas ideias encaixam-se em que estilo musical?
D-Lay - Hip-hop é a cultura, e aqui poderemos encontrar a dança, a pintura, a música - o rap. E é isso que faço. No início também fiz graffiti, mas não foi uma coisa que eu segui, foi mesmo a parte da música, e rimas e batidas.
AP: Você é um transmontano, não é?
D-Lay - Sim, nasci e vivi em Vila Real até completar o grau de mestre de Comunicação e Multimédia, mas infelizmente, por motivos profissionais tive que me mudar para o Porto. Eu faço sempre questão de mostrar as minhas origens, e por isso como imagens de fundo, para o meu primeiro videoclip, Meu Mano, o local das gravações foi a minha cidade natal.
AP: Como é que um jovem transmontano tem essa aptidão, ou tem essa ideia de se exprimir através do rap? Isso foi do quê, da infância, de ouvir algumas influências, de onde surgiram essas rimas e batidas?
D-Lay - Já desde a minha infância eu gostava muito de utilizar a escrita como uma forma de expressar o que sentia, quer fosse em prosa, poesia, o que gostava era de escrever. Acho que isso já é uma característica nata, essa forma de expressão. Mas foi, depois de ter ouvido uma música de Boss AC na rádio que interesse pelo rap despertou em mim.
Foi a partir daí que comecei a descobrir outros artistas, principalmente portugueses, que também já faziam esse estilo de música- Mind Da Gap, Dealema - que são daqui perto de Vila Real: são do Porto, Gaia, que me fez acreditar que também eu vindo de uma cidade do norte, também poderia realizar o meu sonho de produzir, compor e fazer ouvir os meus sentimentos, através da música.
AP: E as suas músicas são em Português?
D-Lay -Sim, o meu primeiro projeto todas elas são em português, pois é um EP onde fiz um retrato mais pessoal.
AP: E ao ouvir esses artistas portugueses, sentiu então a necessidade de se exprimir e começar a tocar, cantar. Isso depois como é que foi, você fazia os poemas e depois fazia a batida, a música? Como é que depois isso encaixava na sua cabeça?
D-Lay -Hoje em dia é muito mais fácil qualquer pessoa, mesmo qualquer miúdo que queira começar a fazer rap, vai à internet, e utiliza um instrumental, como sua própria produção (como se os instrumentais nascessem da internet, estivessem disponíveis lá para toda a gente), a maioria está, mas alguém os teve que fazer. Eu sou o criador de cada beat, na altura em que eu comecei, também o acesso à internet era mais restrito daí eu ter a ambição de querer ser eu a produzir cada nota e através desta criar uma música. E foi essa necessidade de ter uma base para fazer as minhas rimas, que comecei a aprender a fazer. Comprei um teclado Midi comecei a fazer as primeiras batidas, e a partir daí foi sempre a evoluir. Mas não tinha conhecimento nenhum de música. E o conhecimento que tenho hoje em dia, foi por necessidade de querer ser eu fazer, daí eu sempre transmitir que nada é impossível, que a nossa vontade chega sempre mais longe, devendo acreditar em nós próprios.
AP: Isso era suficiente para você fazer as suas músicas E você tem um conjunto de músicas que foi armazenando, foi fazendo?
D-Lay -Sim, tenho guardadas para que quando necessitar terei algo onde me basear.
AP: Nascia primeiro a rima, as palavras ou era a batida e as músicas que fazia primeiro?
D-Lay - Não existe para mim uma ordem mais correta, pois depende de muitos fatores. Por vezes eu faço a batida, como por outras, em que na própria batida começo pelo sample e a parte instrumental, e só depois coloco outros instrumentos a completar e dar o ritmo ao beat. Noutros momentos em que surge uma ideia, eu aponto uma rima, e a partir daí desenvolvo uma letra e depois vou ver um instrumental que já tenha feito e encaixo a letra.... Depende. Não há uma regra.
AP: Não há uma regra no seu caso, mas há pessoas que dizem que fazem primeiro as letras, e depois vão para a viola e fazem as músicas. Há esse tipo de autores, e há os outros que fazem as músicas primeiro e depois metem uma letra ou pedem letras de outras pessoas. Gostaria de perceber o seu ato criativo?
D-Lay - Cada artista vê o melhor que fazer para as suas criações, eu não tenho um processo definido para as minhas criações, pois a minha inspiração é que conduz o meu processo criativo, apesar de que tenho mais instrumentais do que propriamente letras. Eu por dia faço geralmente um beat. Um beat é a parte instrumental. Letras não faço todos os dias. Letras demoram mais tempo. Até porque um beat eu posso fazer uma coisa que me inspira a fazer uma letra. E faço com mais facilidade beats do que escrever letras.
AP: Faz beats para outras pessoas também ou só faz para si?
D-Lay -Não me considero um produtor musical. Até porque eu costumo dizer que sou um Beatmaker eu só faço batidas. Eu faço uma base em que me consiga exprimir, muitas vezes que está cheia de erros a nível musical, mas acabam por ser tornar uma carateristica minha, e deixa de ser um defeito e passa a ser um feitio. Respondendo a essa pergunta, tenho pessoas se identificam com o tipo de sonoridades que faço e que me têm pedido a produção de beats e neste momento estou com alguns projetos... não quero estar a dizer nomes, porque provavelmente essas coisas demoram muito a sair, mas tenho algumas pessoas que estão a rimar em beats meus.
AP: Você na sua adolescência, falou que tinha sido rebelde, essa rebeldia traduz-se na sua própria música ou essa necessidade que teve de se exprimir depois de ouvir aqueles sons, é essa rebeldia que transmite na sua música ou os temas são diversos?
D-Lay -Acho que o hip-hop é uma cultura em que geralmente o rap é uma coisa boa por causa disso, porque uma pessoa geralmente tem sempre... um rapper tem sempre um discurso biográfico, nunca é uma situação de interpretação de músicas que provavelmente as outras pessoas escrevem no caso dos cantores, mas sim um reflexo do que a pessoa é, e se na altura com 16 anos escrevia sobre conquistas amorosas ou os desenhos animados que via na televisão só estava a ser real comigo e fazia todo o sentido escrever sobre isso, estranho era eu com 16 anos estar a ecrever sobre preocupações a nivel de filhos e etc, que eu não tinha... e que ouvia muita gente a fazer nessa altura a abordar essas questões para se promoverem ao nivel de estarem a ser mais reais e mais sérios do que eu. Mas acho que o que é ser real é escrever de coisa que realmente se está a viver.
AP: Essa inspiração vem também do sítio onde nasceu e viveu? Também tem a ver com Vila Real? Era estudante na UTAD? Tem a ver com essas influências, alguma coisa que o tenha marcado?
D-Lay -Sim. O último EP que lancei “O amanhã não espera”, é um EP biográfico que relata muitos acontecimentos que se passaram aqui em Vila Real, aliás a musica “Meu Mano” que lancei o videoclipe, está repleto de referências, de locais de Vila Real.
AP: O facto de viver aqui em Vila Real sendo no interior tem influência na sua música ou acha que se estivesse em Lisboa, Porto a “cena” seria diferente... a sua envolvência e as suas referências?
D-Lay -Claro, claro que ia ser diferente, se eu estou cá as minhas referências e tudo o que eu vou dizer nas minhas músicas vão ser de cá, a não ser que eu esteja a contar uma história na terceira pessoa que seja de outro sítio mas em principio é tudo de cá e a cidade onde estou a viver é o que influência para fazer as minhas letras e até mesmo a sonoridade que eu tenho. Se eu vivesse, sei lá, no Algarve provavelmente as minhas músicas já teriam um outro estilo, não seriam tão nostalgicas como são neste disco…
AP: Mas tem uma influência negativa ou positiva, o facto de ser do interior, os do interior são sempre uns tristes e tal, uns coitadinhos...isso não tem influência na sua música?
D-Lay -É assim, pessoalmente eu acho que hoje em dia, mesmo na comunicação social, quando se fala do interior tem um sentido prejurativo na medida que se fala da pronuncia do interior como uma coisa negativa sendo que no litoral, apesar de ser cá do norte no Porto que se fala de uma forma mais carateristica e não é tão visto como isso, mas nós como somos do interior e dizermos algumas palavras de certa forma já somos vistos de forma negativa e acho que sim, que há um certo perconceito em relação a isso.
AP: Fale-nos da sua produção musical, já fez um EP? Quantas música é que tem?
D-Lay -São seis músicas, todas originais e depois tem uma sétima, que é uma faixa bónus que é um remix de um produtor que fez a parte instrumental, ou seja, aproveitou a parte da minha voz “acapela” e tocou a base instrumental feita por ele. É um produtor que já produziu para o Rapper Valete.
AP: Como se chama o nome do EP?
D-Lay - “O amanhã não espera”.
AP: E tem seis música e mais uma grátis.
-Exatamente.
AP: Qual é a fonte de inspiração deste EP?
D-Lay -Eu gosto sempre de fazer uma ligação e essa é a minha luta, mesmo quando estou a começar a criar uma música gosto sempre ou de me inspirar por samples ou por vozes que ouço na televisão e depois gravo e utilizo nas minhas músicas ou por músicas que eu vou retirar excertos que estão a dizer alguma palavra e dão-me inspiração para escrever o resto da música e depois a minha luta é fazer sempre uma ligação, é como se estivesse a montar um puzzle, tudo tem que encaixar e é a dificuldade entre fazer uma música só ou fazer um álbum ou um EP que é a conexão entre as faixas e eu gosto sempre de fazer essa conexão, não precisa de ser uma conexão a nivel de ideologia mas pode ser por exemplo uma conexão a nível sonoro.
AP: E neste EP qual era a conexão? Na tua opinião quando fizeste aquilo qual o fio condutor?
D-Lay -A primeira musica é quase como uma oração para me proteger, chama-se “Longe do que me mata” (risos) nesta música irei demonstrar a minha posição que manterei no mundo musical, estar longe daquilo que me mata, principalmente porque no meio da cultura do Hip Hop há muita rivalidade, apesar de ser o estilo músical onde mais colaborações existem entre músicos, por vezes, verificam-se algumas rivalidades. E então isso começa por no meu EP, como uma forma de oração (risos) que é para me proteger dessa rivalidade, pois acredito que cada um de nós poderá ter o seu espaço no mundo musical. Eu quero estar longe de mentira, inveja e falsidade entre outras coisas negativas. Depois acaba por dar também uma opinião minha em relação ao panorama da sociedade, numa faixa em que eu falo “que não estou aqui por moda e sempre fiz rap” apesar de haver altos e baixos como em tudo, houve uma altura em que o rap não estava a ter uma grande adesão e hoje em dia já está a ter uma adesão maior e existe mais pessoas a fazer, mas eu sempre cá estive apesar dessas tendências.
Este estilo musical tem uma vertente critica, seja de opinião como relação à sociedade, ao governo que nos oferece poucas oportunidades de trabalho e que infelizmente também me revejo nessa critica e faço dela voz na minha música.
AP: É uma EP onde te dás a conhecer?
D-Lay -É isso...quis também primeiro começar por me apresentar e depois dar opiniões sobre essas coisas.
AP: Então depois deste EP, lanças-te agora há pouco tempo um vídeoclip.
D-Lay -Sim.
AP: Tens muitas mais música preparadas? E para o futuro há algum projeto? tens várias participações com outros músicos?
D-Lay -Tenho sim já alguns contactos feitos, algumas músicas já preparadas para no início de 2020 lançar o meu novo projeto.
AP: Desvenda aí um pouco do futuro?
D-Lay -No EP “O amanhã não espera” são seis músicas, que eu escolhi e das quais fariam sentido para o EP em questão. Claro está que tenho tantas outras, e já estou a preparar novas que farão parte do meu novo projeto que contará com outra imagem, com novas parcerias, mostrando sempre o meu estilo e a forma como sou, nada forçado.
AP: Já fizeste concertos? Como é que o público reage ás tuas músicas?
D-Lay -Reage bem. Eu desde cedo quando começei a brincar a isto, porque tudo isto sai de uma brincadeira, não é...eu tive a sorte de ter logo atuações ao vivo então é uma coisa que já me dá uma certa bagagem e até porque hoje em dia quando faço uma atuação ao vivo não me sinto nervoso, sinto-me bastante confiante talvez por no inicio de ter passado por essa fase e já atuei em vários sítios mas principalmente fora de Vila Real.
AP: Digamos que Vila Real não te apoia assim tanto, é isso? É o público ou é as próprias instituições?
D-Lay -Não sei, acho que é uma coisa normal… mas eu também já estava à espera um pouco disso porque é aquele ditado “Santos da casa não fazem milagres”. E acontece isso com os jogadores de futebol que primeiro têm que ir ao estrangeiro afirmarem-se e depois é que são...(risos).
AP: Mas já foste a algum festival de música? por exemplo o festival no Douro Rock?
D-Lay -Não, também o lançamento do meu EP, foi quando achei o ideal para o lançamento do meu primeiro projeto o que em abril os festivais já se encontram com cartazes fechados, pois têm uma organização muito antecipada, mas futuramente poderá ser o palco das minhas atuações.
AP: Queres produzir, queres ser tu a produzir...!?
D-Lay -A parte industrial e a gestão é com o meu manager e isso poder-me-ia influênciar até mesmo na minha escrita e é uma coisa que eu não quero, eu estou na parte artística.
AP: E estamos a terminar, alguma coisa que achas que valha a pena acrescentar?
D-Lay -O que eu gostava se salientar mesmo é o meu processo criativo, porque há uma diferença entre aquele pessoal que utiliza os instrumentais ou pede instrumentais a alguém, apesar de eu não ter nada contra isso, mas gostava de reforçar a ideia de que sou eu que faço tudo, mesmo o video fui eu que fiz (risos) mas não só para dizer que tenho mais trabalho do que outras pessoas mas não é só isso que eu quero dizer, o que quero dizer é que é uma forma de inpiração porque era muito mais dificil para mim sentar-me em frente a um piano a compor do que é o processo que eu tenho... que é ir buscar ou uma frase que eu ouço ou uma palavra numa música que eu vou samplar e eu utilizo na minha criação como uma técnica de colagem...e que depois me dá inspiração para fazer o resto da música, ou seja , eu posso dizer que vou samplar por exemplo músicas dos anos 70, músicas que possivelmente já estavam “mortas”, entre aspas, e vou dar-lhe...
AP: uma roupagem nova?
D-Lay - Exatamente, dar vida a essas músicas. Há quem veja isso como uma cópia, há quem veja isso como um tributo, eu prefiro acreditar que isso é um tributo.
Página do rapper: dlay5000.com
Entrevista de António Pereira
Fotos de João Teixeira e António Pereira