A comunidade de Mateus, em Vila Real, une esforços e intensifica o trabalho até domingo para construir um tapete de flores de um quilómetro para a procissão da Nossa Senhora dos Prazeres, que atrai cada vez mais visitantes.

Libânia Tavares, de 78 anos, lembra-se de ver, em menina, uns tapetes construídos em frente às casas na Rua das Flores e do cheiro da bola de carne que invadia a localidade no dia da procissão da padroeira da localidade, a Nossa Senhora dos Prazeres.

A tradição das flores perdeu-se no tempo, foi retomada em 2011 e tem vindo a crescer de ano para ano e a atrair cada vez mais visitantes a esta freguesia que se localiza às portas da cidade de Vila Real.

“No tempo dos meus pais não era nada como isto, fazia-se qualquer coisinha à entrada das portas para lembrar que era festa, uma festa muito tradicional e que juntava muita gente. Ia tudo com as merendas para se comer pelo monte fora. Eu era miúda, mas ainda me lembro”, contou à agência Lusa.

A manhã de hoje dos elementos do Grupo de Amigos de Nossa Senhora dos Prazeres foi passada a apanhar flores, como camélias, urze, alfazema ou glicínias. Mas, desde o início da semana que foram juntando folhas, ramos, pinhas, bugalhos e, hoje à tarde, começa a ser construído o tapete no interior do Palácio de Mateus, que abre as portas da capela para a missa de domingo, de onde sai, depois, a procissão.

“Tudo serve para enfeitar a passadeira e fica muito linda. Tem vindo muita gente, até da cidade ver, vem ver a missa, a procissão, vem ver a passadeira”, afirmou Libânia Tavares.

O trabalho na Rua das Flores começa no sábado de manhã e vai envolvendo, a cada ano que passa, cada vez mais moradores, num esforço coletivo que passa pela construção do tapete, mas também pela irrigação do mesmo para evitar que as flores sequem.

“Vamos aprimorando, o tapete cada vez está mais bonito. Ninguém sabia trabalhar com isto, começámos do nada, a coisa ficou bonita e cada vez temos mais gente a visitar-nos e é isso que importa”, afirmou Albino Bicho, também daquele grupo de amigos.


Nesta primavera, referiu,as flores não estão fáceis de arranjar, por isso, têm-se desdobrado por jardins e quintas de moradores ou pelos campos que rodeiam a localidade.

Teresa Albuquerque, da Fundação da Casa de Mateus, realçou a importância do domingo de Pascoela para a comunidade onde o palácio está inserido, num dia em que o monumento nacional abre as portas e explora as relações entre o ritual religioso, as artes populares e as artes eruditas.

A Capela da Casa de Mateus, dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres, foi inaugurada em 1759 e manteve desde sempre uma relação com a comunidade envolvente.

Quase três séculos depois, o domingo de Pascoela continua a ser ocasião para a homenagem da freguesia de Mateus à sua padroeira e, este ano, a eucaristia será acompanhada com o concerto “Missa das celebrações das Chagas de Cristo”, de Sigismund Neukomm, pelo Americantiga Ensemble, obra criada no Rio de Janeiro em 1823, ano em que o 6.º Morgado de Mateus se tornou o primeiro Conde de Vila Real.

O programa conclui-se com a partida da procissão rumo à localidade de Mateus.


Texto de Paula Lima, da agência Lusa, Fotografias de Bruno Taveira do Diário de Trás-os-Montes



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