O município de Miranda do Douro está a proceder à inventariação do número de Capas de Honra existentes no concelho para se perceber as diferentes formas de confeção desta peça do vestuário, disse hoje a presidente da autarquia.
O anúncio foi feito numa altura em que se prepara mais uma cerimónia de exaltação da Capa de Honra Mirandesa, agendada para domingo, e que vai reunir algumas dezenas destes exemplares do traje típico português.
Em declarações à Lusa, a presidente da Câmara de Miranda do Douro, Helena Barril, disse que esta inventariação é um processo que vai arrancar no sentido de deixar o legado dos artesãos do passado que confecionavam “magníficos” exemplares desta peça de vestuário característica da Terra de Miranda, no distrito de Bragança.
“Vamos começar por fotografar e registar cada exemplar de Capa de Honra, já que não há duas peças iguais, junto dos seus proprietários para deixar este legado às gerações vindouras para assim se manter este saber fazer”, explicou a autarca.
Helena Barril deixou ainda o apelo aos proprietários de capas para que as deem a conhecer através do desfile marcado para domingo.
“Muitas destas Capas de Honra estão guardadas em baús e assim podem ser replicadas pelas artesãs mirandesas, que são detentoras desta arte de saber fazer esta peça de vestuário da identidade mirandesa”, acrescentou à Lusa.
A autarca referiu também que “ainda há muitas Capas de Honra na posse das pessoas, principalmente nas aldeias, e que através de conversas do dia a dia se vai apercebendo esta realidade”.
“Temos de incitar as pessoas a mostrar as suas capas, porque se trata de uma herança cultural de muito valor patrimonial e sentimental”, vincou.
Dado o valor cultural desta peça de vestuário, a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) inscreveu, em novembro de 2022, a Capa de Honra Mirandesa no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (INPCI), culminando “um longo caminho na salvaguarda desta peça do traje transmontano”.
O pedido de registo foi proposto em 10 de julho de 2022 pela Câmara Municipal de Miranda do Douro, que desenvolveu um trabalho de investigação para aprofundar o conhecimento desta arte, “com o objetivo da sua inventariação na plataforma MatrizPCI”.
De um agasalho de guardadores de gado até uma peça de vestuário que "está na moda", a tradicional Capa de Honras Mirandesa está a conquistar espaço num panorama do vestuário tradicional português, onde se confecionam chapéus, capas, carteiras e outras indumentárias que são usadas um pouco por todo o país e Europa, tanto por homens como por mulheres.
A Capa de Honra Mirandesa vai continuar a ser perpetuada no tempo com várias manifestações como a do estilista português Nuno Gama, que já se tinha inspirado na peça para a apresentação da sua coleção durante a ModaLisboa 2018.
Também o designer francês Christian Louboutin se inspirou na Capa de Honra Mirandesa para a apresentação de uma das suas coleções, em 2019.
Em fevereiro de 2019, o Papa Francisco vestiu uma Capa de Honra oferecida pelo município de Miranda do Douro.
Atualmente, é apenas utilizada em cerimónias protocolares ou atos de importância relevante. No entanto, é usual oferecer uma capa de honra às pessoas distintas que visitam o município de Miranda do Douro.
De acordo com o historiador António Rodrigues Mourinho, a origem da capa mirandesa remonta aos séculos IX ou X, portanto medieval, tendo origem na “capa de chiba” que, traduzido do espanhol para português, quer dizer “capa de cabra”.
Segundo o historiador, apesar de se pensar ser de origem medieval, só há dois documentos conhecidos até agora que referem este tipo de capa e são datados de 1819 e 1828.
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