O Jogo da Pelota deixou de ser uma competição do adro da igreja ou de rua para se tornar numa modalidade desportiva federada internacionalmente, com adeptos um pouco por todo o mundo, após um período de esquecimento.
A vila de Freixo de Espada à Cinta, no distrito de Bragança, acolhe até sábado o Campeonato Europeu de Pelota que junta cerca de 200 praticantes e dirigentes de nove seleções europeias, o que vem atestar a vitalidade deste jogo que foi divulgado durante o período da ocupação romana em vários pontos da Europa.
“O Jogo da Pelota é muito antigo e os romanos por onde passavam levavam esta atividade, acabando por ganhar em cada localidade regras e formas diferentes de jogar, o que faz que com cada povo tenha o seu próprio jogo”, explicou à Lusa André Pagaime, selecionador nacional de Pelota.
O Jogo da Pelota engloba quatro modalidades que podem ser jogadas frente a frente, tal qual como no ténis, ou contra um frontão ou um muro, como acontece um varias localidades da raia de norte a sul do país. Este desporto é jogado com a mão que serve de raquete.
“O Jogo da Pelota era o mais importante das localidades raianas, mas houve necessidade de criar um padrão de jogo para atrair mais praticantes deste desporto que esteve muito ameaçado e tem ressurgido pela vontade dos jogadores das federações, municípios ou associações”, indicou o selecionador nacional de Pelota
Para uniformizar este jogo, foi criada uma confederação internacional em que os jogadores têm que disputar três modalidades obrigatórias e uma autóctone, neste caso a pelota tradicional de Freixo de Espada à Cinta.
“É um orgulho estar a jogar em casa, com um jogo tão rico e tradicional das pessoas de Freixo de Espada à Cinta e que não é muito diferente daquilo que se joga em Espanha ou em outros países europeus e que tem as suas regras e a sua destreza próprias”, disse André Pagaime.
O selecionador acrescentou que as seleções que estão a disputar os Europeu de Pelota vão conseguir adaptar-se à forma de jogar nesta vila do Douro Superior e que será um momento único de competição já que há jogadores profissionais entre as várias equipas presentes.
O Campeonato Europeu de Pelota de 2024 conta com a participação de nove seleções europeias: Portugal, França, Holanda, Itália, Inglaterra, Comunidade Valenciana, Comunidade Autónoma do País Basco (Espanha), Irlanda e Bélgica.
A Seleção Portuguesa de Pelota apresenta-se em Freixo de Espada à Cinta para disputar o Europeu da modalidade com 30 eleitos, nove dos quais originários deste concelho transmontano.
Inicialmente, a pelota era uma bola de madeira envolta em cabedal, mas agora também pode ser de borracha e cada equipa é constituída por três elementos, mais um suplente. Este é um jogo movimentado que coloca à prova a destreza, reflexos e o vigor dos jogadores que, incentivados pelo público, “fazem desta prova um verdadeiro espetáculo desportivo”.
Bruno Fernandes, de 17 anos, é jogador da seleção portuguesa de pelota originário da Moita do Ribatejo, no distrito de Setúbal, sendo uma forte promessa da modalidade, já que se trata do melhor jogador português e segundo melhor do mundo, feito alcançado nos últimos mundiais da modalidade que decorreram na comunidade autónoma de Valência em Espanha e que deixam algumas responsabilidades neste europeu.
“Eu não conhecia o Jogo da Pelota e adaptei-me com a orientação do André Pagaime. Eu jogava futsal e vejo potencial nesta modalidade. As outras seleções são muito fortes e temos de estar muito atentos para pontuar, disse o jovem jogador português.
Vicent Molines, da Federação Valenciana de Pelota, a campeã em título, disse há outras seleções que podem vencer este europeu como é caso do País Basco (Espanha), Holanda ou a Bélgica.
Do lado da Federação Internacional de Pelota, Alberto Soldado não poupou elogios à organização do europeu em Freixo de Espada à Cinta, afirmando que é a melhor desde que existe esta competição.
“Estamos surpreendidos com o trabalho do município de Freixo de Espada à Cinta e das autoridades portugueses na organização deste campeonato europeu. Há quatro anos apenas havia velhas recordações deste jogo e hoje temos boas instalações para a prática dos jogos e uma boa coordenação”, vincou o dirigente internacional.
O presidente da Câmara de Freixo de Espada à Cinta, Nuno Ferreira, considera que esta iniciativa é entendida como um passo em frente para colocar este concelho no mapa dos grandes eventos desportivos a nível nacional e internacional e que passará a ostentar a chancela de “concelho bastião da pelota portuguesa”.
De acordo com o autarca, estes quatro dias vão ajudar a movimentar a atividade económica no concelho, e contas feitas cada jogador deixam cerca de 80 euros/dia durante a sua estadia.
Francisco Pinto, da agência Lusa