O eremitério da Senhora da Teixeira (século XVI) em Sequeiros, no concelho de Moncorvo, apresenta um conjunto de 40 painéis de pinturas a fresco, agora recuperados, um templo tido como a Capela Sistina do Douro Superior.
Esta Ermida está situada num local ermo, ladeado de oliveiras e outras culturas agrícolas, onde no passado viveu um ermitão que para ali de se deslocou e construiu esta capela que contém 40 painéis de pinturas a fresco que representam cenas do Novo Testamento.
Para o investigador e técnico da Direção Regional de Cultura do Norte Nelson Rebanda, este local, no distrito de Bragança, é tido como a Capela Sistina do Douro Superior, já que se encontra toda ela revestida de pinturas a fresco.
“Diz a lenda que o ermitão foi sete vezes a Roma, na segunda metade do século XVI, para se inspirar na Capela Sistina para decorar o eremitério da Senhora da Teixeira, com a técnica da pintura a fresco e baseada na obra de Miguel Ângelo [ 1475-1564]”, explicou à Lusa o investigador transmontano.
Nelson Rebanda está seguro que o ermitão visitou a Capela Sistina, mas não tantas vezes como reza a lenda, porque há várias cenas que estão pintadas nas paredes e no teto do templo cristão como a do “Juízo Final ou uma representação do profeta Moisés associado às Tábuas da lei, que apresentam semelhanças”.
“Na sua viagem ou viagens a Roma, o eremita fez certamente os seus desenhos e apontamentos e recriou-os nesta ermida onde figuram cerca de 40 painéis a fresco. Para já podem surgir algumas dúvidas, se foi o eremita quem pintou sozinho a capela ou se teve a ajuda de alguém com mais jeito, porque tudo isto implicava uma aprendizagem das técnicas”, refletiu o estudioso.
Nelson Rebanda refere ainda que este tipo de pintura não é raro e foi muito utilizado durante a idade média. Contudo, com o aparecimento do estilo Barroco [século XVI a meados do século XVII], muitas destas pinturas foram completamente destruídas.
“No período em que imperou o estilo Barroco, o importante era a talha dourada e muitas destas pinturas a fresco foram pintadas com cal e outras mesmo totalmente picadas, o que fez com que muitas desaparecessem. Estas sobreviveram, foram recuperadas e são um belo conjunto de frescos, dada as cenas que representa, associadas à época em que foi pintada e ao número de figuras, já para não esquecer as lendas associadas”, observou o investigador.
Estas pinturas a fresco sempre foram muito valorizadas ao longo dos séculos pelas populações vizinhas de Sequeiros e, tal como defende Nelson Rebanda, nunca passou pela cabeça de ninguém mandar cal para cima das pinturas ou picá-las para dar lugar a novos elementos decorativos”.
Esta ermida é rodeada de muitas lendas que foram descritas ao longos dos séculos pelas populações e pelo próprio clero, não estivesse este templo perto de um dos caminhos de Santiago que atravessa o Nordeste Transmontano.
Após vários estudos, foi possível apurar que o eremita se chamava Jordão do Espírito Santo e era oriundo da região de Baião, no distrito do Porto, e para ali se deslocou no século XVI.
O que é certo é que o conjunto foi valorizado e atualmente a Ermida da Senhora de Teixeira é ponto de referência para os apreciadores e investigadores das pinturas a fresco.
“Continuamos sem saber quantas pessoas participaram na elaboração dos frescos, porque há painéis com traços diferentes e não estão em linha com a narrativa do Novo Testamento. Verificámos que, apesar de todas as condicionantes, há um grau de mestria nestas pinturas a fresco que convém valorizar. O facto de as pinturas preencherem todo o interior e o adro da ermida, fazem de facto lembrar a Capela Sistina”, enfatizou Nelson Rebanda.
Estes frescos estavam à “beira da degradação e de se perder” mas foi possível salvá-los, fruto de uma intervenção feita recentemente.
"É um local de peregrinação, misticismo e lendas onde ocorrem muitas pessoas desta região sul do Douro Superior, no concelho de Torre de Moncorvo”, disse o investigador.
A intervenção realizada na Ermida de Senhora da Teixeira, resulta de um investimento de mais de 64 mil euros e foi integrada num candidatura ao Património Comum (PATCOM) apresentada pela Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN) e Junta de Castela e Leão ao programa de cooperação transfronteiriço INTERREG.
Texto e fotografias: Francisco Pinto/Lusa