Quando se assinalam, a 14 de dezembro de 2021, os 20 anos da classificação do Alto Douro Vinhateiro (ADV) como Património Mundial pela UNESCO, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) recorda alguns dos seus principais enfoques históricos.
O processo da candidatura do Alto Douro Vinhateiro a Património Mundial da UNESCO foi desenhado pela UTAD, no âmbito das ações do Centro de Estudos de Desenvolvimento Regional (CEDR), fundado pelo antigo reitor José Gaspar Torres Pereira. Este processo decorreu sob o patrocínio da Fundação Afonso Henriques, de que a UTAD fora também co-fundadora. Ficou incumbido de coordenar a candidatura o Prof. Fernando Bianchi de Aguiar, então docente da UTAD.
Bianchi de Aguiar tinha já como “sonho” este importante desafio, quando exercera funções de Presidente do Instituto do Vinho do Porto (IPV). Durante a sua presidência, organizou um dossier com vista a essa mesma candidatura. Por essa razão, após regressar às suas funções académicas na UTAD, foi convidado formalmente pelo presidente da Fundação Afonso Henriques, Dr. Miguel Cadilhe, a liderar o processo de candidatura do Alto Douro Vinhateiro a Património Mundial da Humanidade, sendo reconhecido como “um dos mais profundos conhecedores do Douro, nas suas vertentes multifacetadas, que vão desde o património monumental e paisagístico, à sua realidade cultural, económica, geológica e às imensas potencialidades turísticas”[1]
A candidatura foi entregue em Paris em 30 de junho de 2000 pela Fundação Afonso Henriques.
Nesta sequência, no dia 18 de janeiro de 2001, decorreu, no auditório de Geociências, a cerimónia de assinatura de um contrato entre a UTAD e a Fundação Rei Afonso Henriques, agora presidida pelo Prof. Luís Braga da Cruz, visando a elaboração de um Plano Intermunicipal de Ordenamento do Território para a Área do Alto Douro Vinhateiro, condição essencial para a candidatura vir a ser aprovada nela UNESCO. Desse plano ficou incumbido o Centro de Estudos de Desenvolvimento Regional (CEDR), com um orçamento de 58 mil contos, dos quais 75% foram assegurados pelo então III Quadro Comunitário de Apoio.
A candidatura foi então reorientada à luz do conceito de “paisagem cultural evolutiva viva”, afirmando-se necessário regulamentar as intervenções humanas no Alto Douro Vinhateiro. Daí que os estudos realizados pelos investigadores da UTAD, à luz do contrato assinado, procurassem “conciliar a componente económica com a salvaguarda do padrão da paisagem e dos valores naturais e históricos nele existentes”[2]
Os concelhos abrangidos nesse Plano Intermunicipal foram Alijó, Armamar, Carrazeda de Ansiães, Lamego, Mesão Frio, Peso da Régua, Sabrosa, Santa Marta de Penaguião, São João da Pesqueira, Tabuaço, Torre de Moncorvo, Vila Nova de Foz Côa e Vila Real, os quais passaram a integrar o território classificado pela UNESCO.
Os docentes e investigadores da UTAD que integraram a equipa multidisciplinar que esteve na origem da candidatura e deram contributo decisivo para a sua classificação pela UNESCO foram: Fernando Bianchi de Aguiar (coordenador da candidatura), Jorge Manuel Dias (coordenador adjunto), Paulo Farinha Marques, Luís Ramos, Nuno Magalhães, Armindo Afonso Martins, Artur Cristóvão, Carlos Coelho Pires, José Portela, José Ribeiro, Robert Manners Moura e Rui Cortes. A esta equipa juntaram-se as colaborações de Teresa Andresen (Universidade de Aveiro) e Gaspar Marques Pereira (Faculdade de Letras da UP), respetivamente nas áreas do ordenamento do território e da história do Douro.
Por fim, a 14 de dezembro de 2001, o Alto Douro Vinhateiro foi inscrito pela UNESCO na lista do Património Mundial da Humanidade, na categoria de Paisagem Cultural Evolutiva e Viva.
Assinatura do contrato a 18-1-2001
UTAD
[1] Campus, abril de 1999
[2] Magalhães, Nuno “A Viticultura da Região do Douro - Dos primórdios às grandes mudanças no virar do século”, Atas das 2ªs Conferências do Museu de Lamego/CITCEM, 2014