Luis Ferreira

Luis Ferreira

A aliança do desespero

As alianças surgem por boas causas e por maus momentos. Sempre assim foi ao longo de toda a História da humanidade. Podem revestir-se de um cariz guerreiro ou de interesses políticos ou ainda devido a interesses económicos. Não há dúvida que elas funcionam, embora nem sempre com a intensidade de quem as elabora e, neste caso pode levar ao incumprimento dos objetivos.

Referi há algum tempo que uma aliança entre o PSD e outra força política, com exceção do Chega, poderia contribuir para a afirmação da social democracia em Portugal. Claro que isso depende doa votos que a aliança venha a obter em eleições, como as que se avizinham. Na realidade, essa aliança surgiu entre o PSD e o CDS/PP e o objetivo é angariar mais votos que a esquerda, afastando o PS do governo. Não é fácil destronar o PS mesmo depois do descalabro político a que assistimos, da demissão do Primeiro Ministro e da queda da Assembleia, dando lugar a um governo de gestão até março.

Após a vitória de Nuno Santos nas diretas do PS e agora como Secretário-Geral, ele vê-se já como o principal candidato a chefiar o governo e não vai deixar cair o pano no charco. Tudo fará para ganhar as eleições legislativas de 10 de março.

Perante tudo isto e arredado para um segundo plano político, o Chega vem a terreiro dizer que é uma aliança de desespero aquela que o PSD fez com o CDS. E à volta de tudo o que disse, insistiu na tecla de que é uma aliança antiga, que já foi feita várias vezes e que não vai funcionar por falta de votos suficiente. Termina dizendo que o PSD deveria olhar para o futuro e que o futuro era o Chega e assim ganhariam as eleições sem problemas. Claro que sim, mas o problema é precisamente o Chega e André Ventura. O partido é de um homem só e não tem mais ninguém que saiba dizer duas palavras direitas e com sentido, para além de ser um extremista, coisa que em Portugal não funciona nada bem.

Esta aliança, se ganhar as eleições e for governo, permite-se reformar e fomentar a competitividade de crescimento da economia e dos rendimentos das empresas, reabilitar o Estado Social que se encontra a definhar a cada passo. Terá ambição para elevar os níveis de prosperidade e rendimento de todos os portugueses. Defenderá a dignidade humana e combaterá a pobreza, valorizando a família cujos laços se estão a perder nos meandros dos esquemas onde só o interesse imediato conta. Defenderá certamente a liberdade e a igualdade de oportunidades, da segurança dos cidadãos e da segurança do país. Valorizará a cultura, os valores e a ligação às comunidades portuguesas.

Claro que tudo isto são promessas, mas todos as fazem. Uns cumprem e outros esquecem-se que as fizeram. Mas no meio destas promessas, há muitas alíneas demasiado sinuosas para resolver e que o PS deixou para trás, aliás como sempre tem feito. Quem vier que as resolva! Lembremo-nos, por exemplo, da TAP. O que vai ser feito e a quem vai ser vendida, se for vendida. A questão do aeroporto e a sua localização. Não podemos esquecer que o governo está dependente da ANNA que controla os aeroportos e, no caso da construção do novo aeroporto, será ela a ditar as ordens, se for construído a menos de 75Km da Portela. Por isso está contra a opção de Alcochete. São os tais jogos políticos, feitos e assinados em momentos de menos lucidez, na secretária do Ministério e quando era preciso resolver rapidamente a gestão dos aeroportos, para o que o governo não tinha aptidão. Uma jogada fantástica da ANNA e que o governo não se apercebeu. Quando temos uma brasa na mão a queimar a pele, o melhor a fazer é deitá-la fora. Foi o que o governo fez. Alguém a apanhou e deixou arrefecer. Agora fria, serve-se muito melhor. Será que quem vier vai resolver o assunto? Se o PS ganhar, tudo ficará na mesma, certamente. Enfim, mais do mesmo.

Pois parece que o próximo governo vai ter demasiadas brasas para apanhar e apagar, seja ele qual for. Temos que se for o PSD e o CDS a governar, as coisas mudem um pouco, mas os problemas são demasiados para solucionar e o pior cabe sempre aos que chegam, que acabam por ficar mal vistos pelas atitudes que têm de tomar para resolver o que os anteriores não conseguiram. Se nos lembrarmos dos últimos anos de governação do PS, sempre que deixaram o governo, deixaram o país quase na bancarrota e os que vieram tiveram de resolver. Claro que ninguém gostou de ver salários cortados, impostos subidos, inflação enorme e ter de suportar as exigências do FMI do BE para controlar a economia em falência. Ninguém gostou, mas quem se questionou sobre a razão ou razões de tais medidas? Poucos as entenderam. Foi a solução do momento. Não foi a melhor, claro, foi a possível. Mas o Sócrates sabe.

Enfim, se for o caso de uma nova Aliança Democrática ganhadora, que seja e que faça das promessas o cavalo de batalha para chegar ao sucesso. Não será certamente a Aliança do Desespero. BOM FESTAS.



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