Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

Hoje, o Dia Nacional do Património Cultural Imaterial

Não está ainda instituído como tal, mas o dia de hoje (27 de novembro) deverá ser assumido como o Dia Nacional do Património Cultural Imaterial, conforme proposta da APSPCI, assinalando-se o aniversário da consagração do Fado como Património da Humanidade pela Unesco. Mas não basta que seja apenas uma data para evocar o Fado no seu pendor identitário de um país, até porque o fado não está em crise e muito menos em perigo, e não falta quem o proteja. Deverá ser, acima de tudo, uma data para evocar o património imaterial profundo, intangível, ameaçado, desprotegido.

O Património Cultural Imaterial (PCI), que temos vindo a definir como «todo o conjunto de manifestações e expressões de natureza intangível que têm a memória oral como meio de preservação e de transmissão, engloba, por isso, não só o campo “esmigalhado” da literatura popular de tradição oral (lendas, mitos, contos populares, romanceiros, cancioneiros, quadras, autos populares, excelências, parémias, apodos, adivinhas, rimas infantis, orações, rezas, responsos, fórmulas de superstições e de mezinhas, esconjuros, pragas e maldições, agouros ou profecias, orações com escárnio, galanteios, pregões, chamamentos de animais…), como também todo o universo de saberes e vivências da cosmogonia popular, tais como os falares regionais, os ritos e as festas, os jogos, as danças, os saberes do artesanato, da culinária e medicina popular, dos trabalhos rurais e marítimos, a mitologia popular, a etiologia dos lugares de memória, etc.» (cf. Património Imaterial do Douro, 2007, p. 11).

Celebrar o PCI é, acima de tudo, celebrar a identidade cultural de um povo reconhecendo a importância que ela representa como um motor de resistência, como um fenómeno de contracorrente perante a poderosíssima energia homogeneizadora da globalização ao acelerar o declínio da ideia tradicional do estado-nação. Cada vez mais deveremos ter a noção de que, sem o aconchego da identidade e da memória, sem um quadro de referências sólidas e respeitáveis, as novas gerações viverão dramaticamente desamparadas num mundo global complexo, um mundo de errâncias depressivas e angustiantes.


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