Alexandre Parafita
Um aniversário quase despercebido
Passou ontem praticamente despercebido, no país, o aniversário da elevação do Fado a Património Mundial. Mas não é nada que nos possa admirar. Para ser diferente, seria preciso haver uma emoção partilhada, uma força sentimental coletiva em torno daquele património imaterial, como aconteceria, certamente, se se tratasse das Tradições Orais Galego-Portuguesas, que o governo português recusou candidatar à UNESCO. A necessidade e a ousadia de resgatar e salvaguardar o património cultural imaterial têm de ter em nós um efeito comocional, geralmente provocado pelo contexto em que os bens culturais em causa se inserem. Um contexto que representa a descontinuidade do tempo e a efemeridade da nossa própria existência, apontando-nos os nossos limites. Comove-nos saber que algo de nós estará de partida com a perda daqueles bens. Daí o desejarmos fazê-los perdurar. Tal como um pôr do sol que é belo porque emociona e emociona porque nos mostra o limite do tempo, deixando-nos patente como tudo é efémero. E é essa constatação da efemeridade que nos conduz à busca dos momentos sublimes.