Luis Ferreira

Luis Ferreira

Um pardal em Marte

Muitas são as vezes que nos questionamos sobre a possibilidade de certas coisas acontecerem e muitas são as que não conseguimos obter uma resposta favorável às interrogações formuladas. É isso que nos faz evoluir ao longo dos tempos. Queremos saber sempre mais para podermos chegar mais longe.
A história da humanidade dá-nos exemplos variados sobre a vontade de evolução das sociedades e o que elas conseguiram nos últimos séculos. A ciência tem-se desenvolvido grandemente e os que nela apostam vêem o seu esforço premiado e dele, todos retiramos os benefícios com que nos servimos.
Há, no entanto, sectores em que nada se pode inventar ou onde nada se tem aprendido nos últimos tempos. Quando no século V antes de Cristo, na Grécia, se praticou a democracia, pensou-se que era o sistema mais avançado para exercer política, mas não foi por isso que outros povos adotaram a democracia como sistema político. Muitos séculos mais tarde, quando outros pensadores adiantaram ideias que revolucionaram o modo como se deveria tratar a sociedade e o poder, entrou-se numa era nova e surgiram as revoluções liberais. Daí às democracias liberais e aos regimes modernos onde ela impera, foi um salto de pardal.
Hoje chegamos a questionarmo-nos sobre a validade dessa mesma democracia quando vemos pôr à sua frente os interesses particulares de alguns dos agentes políticos, agentes esses que, por ironia do “destino”, foram eleitos por essa mesma democracia. Afinal de que vale a democracia?
Quando após as eleições europeias, o partido socialista arrecadou mais uma vitória que satisfez plenamente o seu secretário-geral, todos pensaram e com alguma prioridade, que José Seguro e o PS estavam na plataforma certa para ganhar as legislativas de 2015. Nada faria prever alguma alteração de fundo neste cenário, apesar de estarmos a um ano do evento.
De um dia para o outro, tudo se mudou. Depois do governo vir dizer que afinal a vitória não era expressiva e que a diferença era mínima, logo se ergueram dentro do PS algumas vozes dando razão ao governo e criticando Seguro pela afirmação da vitória expressiva sobre o governo de coligação. Atrás dessas vozes, algumas de primeiro plano e que estiveram sempre ao lado de Seguro, viraram-lhe as costas e arregimentaram outras que se perfilaram imediatamente atrás de quem queria ser líder. O poder, sempre o poder e a possibilidade de chegar a primeiro ministro, fez despoletar uma crise tremenda dentro do próprio partido socialista, onde afinal o que conta não é o partido nem os portugueses, mas sim a possibilidade de ser primeiro ministro. E quem aparece em primeiro plano? António Costa, o tal que há meses não queria cargos dentro do partido, porque não havia nada para dar nem para disputar. Os que estavam com Seguro, apunhalaram-no e vieram a terreiro apoiar Costa, porque lhes cheirava a poder. Se dias antes afirmavam que tudo estava bem com Seguro, dias depois Seguro já não merece confiança e não presta para ser primeiro ministro. Faça-se um congresso extraordinário urgente e mude-se a liderança. Portugal exige! A verdadeira democracia a funcionar!
Felizmente ou não, os órgãos em exercício do PS não concordaram com estas exigências e não vai haver congresso para ninguém. Costa vai ter de esperar por setembro para medir forças com Seguro ou com quem mais possa aparecer. Mas que pardal me saiu este António Costa! Penso que Seguro não merecia tal tratamento por parte dos seus pares.
O homem já enviou sondas a Marte, mas ainda lá não foi e sabe que a vida ali é impossível. Se lá puséssemos um homem, sucumbiria certamente ao fim de muito pouco minutos, porque o ambiente não lhe é favorável. Se fosse, viveria lá algum tempo e até iniciaria a formação de uma cidade planetária que muito contribuiria para a tal evolução das sociedades, neste caso, extraterrestres. Infelizmente não pode. Se lá deixássemos um pardal à solta, cairia passado duas batidas de asa por não ter oxigénio. Mas isto não faz de Marte menos planeta e não dá menos motivação para a descoberta de todas as suas potencialidades.
O mesmo acontece com Costa. Um pardal que se movimenta por estes céus nacionais porque vai tendo oxigénio suficiente, mas que se fosse largado em Marte, morreria imediatamente. Queira Deus que os céus do PS não se transformem nos solos de Marte!


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