O distrito de Bragança já foi o maior produtor de centeio do país e há agricultores e empresário interessados em voltar a cultivar, se houver ajudas específicas para esta região.

Esta foi a tónica do início da primeira Jornada de Cereais do Norte que decorre durante o dia de hoje em Bragança, promovida pela Associação Nacional de Produtores de Cereais (ANPOC).

A cidade foi escolhida para a realização desta iniciativa, como explicou o presidente José Palha, porque “era grande produtora de cereais, especialmente centeio e trigo barbela, produtos que, hoje em dia, têm imensa procura”.

No Norte de Portugal, além do milho produzido no Minho para a produção animal, Trás-os-Montes, e concretamente Bragança, é a região com mais tradição na cultura de cereais e, tanto do presidente da ANCOP como outros intervenientes na sessão, acreditam que pode voltar a ser “interessante a produção de cereal” nesta zona.

Alertam, contudo, que só com ajudas da União Europeia e do Governo direcionadas para as características da região é que será possível convencer os agricultores a voltarem a fazer cereal.

“Os apoios não podem ser transversais à agricultura em Portugal, quem faz cereais no Alentejo gasta muito menos recursos do que quem faz cereais em Trás-os-Montes, nomeadamente em Bragança, e por isso tem que haver uma discriminação positiva em termos de maior apoio financeiro aos agricultores desta zona”, defendeu o empresário Luís Afonso.

O empresário, que é proprietário da maior e mais antiga moagem do território, fez o retrato do setor na região e lembrou que há 30 anos Bragança era o quarto maior produtor de trigo e Portugal e o primeiro de centena.

O fim das ajudas ao setor levou ao abandono e a produção sofreu uma redução de 90% no distrito de Bragança, com “muitos terrenos” agora ocupados por outras culturas como o castanheiro, que se tornou numa das produções mais rentáveis.

Ainda há terra disponível, garante o empresário, corroborado pelo agricultor Amadeu Fernandes, que deixou de produzir cereal porque “os preços não eram convidativos” e o pouco que produz é complementar à atividade de produtor de gado.

Para voltar a cultivar, “só com uma ajuda muito forte”, que defende que terá de ser muito superior ao subsídio de 100 euros por hectare de que ouviu falar.

Segundo disse à Lusa, só para preparar o terreno e para semente tem que investir, pele menos, “600 euros por hectare”.

“Tem que haver mais ajuda”, vincou.

O que levou à redução das áreas de produção de cereal nesta região foi o fim dos apoios financeiros, segundo o empresário Luís Afonso, o aumento dos custos de produção e a falta de rendimento.

Concretizou com o preço do quilo do cereal que há 30 anos era pago ao produtor a 50 escudos e na última campanha tinha o mesmo valor em euros, 25 cêntimos.

“Uma saca de adubo custava 10 euros, hoje custa 25 euros”, exemplificou.

Para este empresário, se “a União Europeia quer mobilizar os agricultores, tem que pagar, e se o dinheiro for satisfatório ou atraente os agricultores voltam a pegar nessa produção, o que era ótimo porque foi sempre uma cultura tradicional desta região”.

“E isso é importante porque há limpeza de terra, combate-se os fogos, há grão dos cereais no chão que permite aumento da fauna cinegética (perdiz, lebre, coelho), e isso é extremamente importante para a geração de riqueza no território”, acrescentou.

O propósito da ANCOP com esta jornada é “incentivar os produtores a voltarem a produzir porque existe procura”, nomeadamente devido aos condicionalismos resultantes da guerra na Ucrânia, um dos maiores produtores mundiais de cereais.

O presidente José Palha reconhece que não será possível recuperar os níveis de produção de há 30 anos sem alcançar a autossuficiência em Portugal, que importa 95% do cereal que consume, mas acredita que “um produto de nicho com valorização pode ser interessante para esta agricultura e mais uma alternativa para os agricultores desta região”.

Os intervenientes nesta jornada aguardam que ao longo do dia sejam apresentadas medidas de apoio concretas, nomeadamente pela ministra da Agricultura, que irá encerrar a sessão por videoconferência.



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