Os concelhos de Vila Flor, Vinhais e Macedo de Cavaleiros, distrito de Bragança, querem ser incluídos nos apoios aos estragos causados pelo granizo na região, disseram hoje à Lusa os seus presidentes de câmara.
As intempéries que ocorreram entre 27 maio e 12 de junho deixaram prejuízos agrícolas na região, que não foram contemplados nos despachos publicados em Diário da República, a 19 de julho e a 21 de agosto. Estes apoios destinam-se, respetivamente, a tratamentos fitossanitários e ao restabelecimento do potencial produtivo.
No concelho de Vila Flor, segundo os levantamentos feitos pela Associação de Agricultores do Nordeste Transmontano, foram afetados 407 hectares de área agrícola, entre árvores de fruto e vinha, em seis das 14 freguesias.
“Queremos ser incluídos nestes apoios e que estes sejam maiores. Há duas situações: a exclusão dos nossos territórios, o que não entendemos; e também a dimensão dos apoios ser demasiado modesta para a realidade”, disse à Lusa do presidente da câmara, Pedro Lima (PSD).
“Entrámos no terreno logo e restabelecemos a normalidade a nível de circulação agrícola. Se não fosse o município e estivéssemos à espera, as vindimas não se tinham realizado, nem a apanha da amêndoa. Nem a livre circulação às propriedades dos agricultores”, afirmou ainda Pedro Lima. Nestas reparações, o município de Vila Flor estima gastos de 250 mil euros.
Para Pedro Lima, o “setor está débil e já precisa de apoios em dias normais”.
“Em dias de intempérie precisa de um apoio forte e determinado porque se não arriscamos a que o setor continue a desaparecer. Porque a realidade é que no Nordeste Transmontano o abandono agrícola é uma constante”, vincou o autarca de Vila Flor.
Em Macedo de Cavaleiros somam-se os prejuízos em 38 hectares de área agrícola e 223 mil euros de estragos contabilizados em equipamentos públicos na intempérie de 4 de junho, entre eles muros de suporte junto a caminhos rurais. O total ascende os 230 mil euros de danos.
Benjamim Rodrigues (PS), presidente da câmara macedense, estima agora um valor muito superior, depois de nova intempérie a 2 de setembro.
“Estamos a reunir com o Ministério da Agricultura, queremos envolver também o Ministério do Ambiente. E esperar que possa haver fundos para nos possam ajudar, porque se não acaba por ser incomportável”, considera Benjamim Rodrigues.
Em setembro, os prejuízos agrícolas aumentaram. No total, em Macedo de Cavaleiros “60% da produção de olival ficou afetada”, avançou à Lusa Benjamim Rodrigues. Neste último episódio de granizo, “cerca de 50 hectares de olival e 20 hectares de vinha foram afetados, o que é “um prejuízo muito grande”.
“O argumento que o Ministério da Agricultura tem, e é compreensível, é que para este tipo de prejuízos existem seguros. E o ideal era haver seguros coletivos, efetuados por cooperativas. Eles vão [Ministério da Agricultura e cooperativas] trabalhar nesta área também, isto é importante”, explicou Benjamim Rodrigues. Os levantamentos dos prejuízos foram feitos por técnicos do município e pela Direção de Agricultura e Pescas do Norte.
Em Vinhais, os prejuízos foram causados pelo granizo dia 1 de junho: “Estamos a falar de cerca de 40 hectares afetados, de castanheiro, vinhas, hortícolas e forragens. Sobretudo nas freguesias de Vilar Seco de Lomba e de Edral”, disse à Lusa Luís Fernandes (PS), presidente da câmara de Vinhais. “O que nós gostávamos era que, dentro dos apoios que agora estão a ser concedidos aos locais afetados, o concelho de Vinhais, sobretudo essas duas freguesias, fossem contemplados e que os produtores e agricultores se pudessem candidatar a esses apoios”, disse Luís Fernandes.
A Comunidade Intermunicipal Terras de Trás-os-Montes (CIM-TTM), que incluiu nove municípios do distrito de Bragança, reuniu hoje com a Ministra a Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes, sobre este assunto, por videoconferência.
“Houve uma promessa, uma abertura, para a deslocação da senhora ministra ao nosso território, mais concretamente à nossa CIM, para discutir estes e outros tópicos para a agricultura. Interpretamos como um sinal positivo. A esperança é sempre a última a morrer. Aguardaremos pelas boas-novas que poderá trazer com ela brevemente”, adiantou à Lusa Pedro Lima, autarca de Vila Flor e vice-presidente da CIM-TTM.
O mesmo espera Benjamim Rodrigues: “Criámos a expectativa de que haja soluções. Porque senão temos os agricultores completamente isolados nesta situação, sem apoios, em que só os municípios lhes podem valer. Mas para os municípios, constantemente a viver estas situações, sem verbas em orçamento que possam ser disponibilizadas, é muito complicado. Torna-se muito difícil”, considerou Benjamim Rodrigues.
“O que percebi da senhora ministra é que estes casos iriam ser novamente avaliados, no sentido de ver uma solução. Que iria ser revisto, penso eu, no sentido de virem a ser contemplados posteriormente. É isso que esperamos”, adiantou Luís Fernandes.
A Lusa tentou contactar o Ministério da Agricultura e da Alimentação, mas até ao momento não obteve resposta.