Montesinho é actualmente uma aldeia reduzida a trinta habitantes, com apenas duas crianças. Em jeito de brincadeira, costuma-se até dizer que tem mais cães que pessoas. Tal como o de tantas outras aldeias portuguesas, o seu destino parece ser o desaparecimento mais ou menos acelerado.

No entanto, nos últimos anos, esta aldeia mostra sinais de mudança e vive actualmente um processo que irá provavelmente inverter esta tendência de desertificação.

Muitas das casas estão a ser recuperadas por pessoas com maior ou menor ligação do passado à aldeia. Outros descobriram a aldeia e apaixonaram-se. Alguns passam já grandes temporadas em Montesinho, outros vivem já na aldeia ou têm o projecto de se instalarem definitivamente num futuro mais ou menos próximo.

Tendo-se tornado uma das aldeias de referência do Parque Natural de Montesinho, a procura por parte de visitantes tem crescido consideravelmente nos últimos anos, a par do turismo em toda a área do parque natural. Seja por umas horas, uns dias ou mais, a presença de “gente de fora” é já uma característica da aldeia.

O turismo tornou-se aliás num elemento importante, que de forma mais ou menos directa, faz parte da vida dos habitantes da aldeia. Uma breve conversa à soleira da porta ou no café, a venda de uns ovos ou o aluguer de um quarto são momentos que cada vez mais ocupam os residentes de Montesinho.

Estes são indícios de mudança que evidenciam a tendência de desenvolvimento, à qual não é alheia a criação do Parque Natural de Montesinho. Com efeito, um dos objectivos da criação de áreas naturais protegidas é potenciar o desenvolvimento local. E Montesinho parece ter assumido em pleno este desígnio.
Contudo, a pressão de todos estes factores leva-nos a levantar algumas questões quanto ao impacto que poderão ter na aldeia. Os efeitos destas mudanças podem constituir um risco, ou bem pelo contrário, um desafio.

O risco será aquilo que se designa por ultrapassar a capacidade de carga, ou seja, uma ocupação excessiva cujos efeitos não são compensados pela resposta do ambiente. Por exemplo, se puxarmos com muita força uma rama de uma árvore ela não volta à posição inicial e parte-se.

Risco é também perder todo um saber acumulado nos hábitos diários caseiros ou no modo de trabalhar a terra. É perder as características distintas que fazem Montesinho uma aldeia diferente.

O desafio é continuar o processo de desenvolvimento, mantendo a identidade da aldeia. Implica seguir um caminho por formas de vida que evitem o abandono da aldeia e mantenham uma continuidade entre o passado, o presente e o futuro. Criar novas formas de ocupação e manter certas características poderá contribuir para um desenvolvimento que assegure a continuidade da aldeia.

Continuidade não significa a manutenção dos modos de vida inalterados, quando estes se revelam desajustados e sem perspectiva de futuro. Continuidade significa manter uma identidade, e uma identidade é feita de distintividade, de modos próprios, de características únicas.

Esta distintividade pode ser conseguida mantendo certas características e inovando, criando novos elementos, novas ocupações com uma raíz no passado e na história.

É este o desafio de Montesinho: desenvolver, inovar, continuando diferente, distinta e motivo de orgulho e satisfação de todos aqueles que a ela estão ligados.

Publicado na revista Montesinho



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