O Semanário Transmontano publicou, não há muito tempo, uma curiosa reportagem sobre uma casa em construção atravessada por um cabo de alta-tensão da EDP, ali para os lados de Chaves. Foi a denúncia, se bem me lembro, da falta de competência de alguém na EDP.
Mas quem percorrer aldeias - algumas até situadas em áreas “ protegidas “ ou classificadas, a mais desenvolvida cidade e em particular os seus centros históricos, passando por vilas que nos desdobráveis de promoção turística evidenciam os seus melhores monumentos, se olhar com alguma atenção encontrará situações umas vezes caricatas, outras verdadeiros atentados à mais “ insensível “ das sensibilidades. Então vejamos alguns dos muitos casos, que certamente os leitores do Diário de Trás-os-Montes poderão enriquecer e ampliar em número e em qualidade.
LAMAS DE ÔLO
Sementeira de postes, fios e antenas parabólicas
Lamas de Ôlo é referida como uma das mais típicas aldeias do concelho de Vila Real.
Situa-se em pleno Parque Natural do Alvão. Logo, está abrangida por normas e disposições nacionais, e sei lá se também por normas da União Europeia.
É uma aldeia de características muito especiais onde ainda se praticam tradições comunitárias. As ruas ladeadas de construções em granito e cobertura de colmo. Aqui e além uma ou outra construção mais recente fruto do trabalho no estrangeiro.
A sua cada vez menor população vive essencialmente de uma agricultura de subsistência. O turismo rural poderia ser fonte de receita, modo de vida para muitos, quem sabe até se estímulo para fixar as populações.
Espaço de paisagens de rara beleza, estimula ao disparo da máquina fotográfica. Mas se olharmos bem, facilmente se registam enquadramentos onde abundam postes, fios, cabos de telefones e de iluminação, semeados sem qualquer cuidado em preservar a paisagem, o meio ambiente. Se repararmos mais em pormenor, acrescentaremos uma meia dúzia de antenas parabólicas, algumas bem evidentes colocadas em típicas construções de granito e cobertura de colmo.
Dir-me-ão que os habitantes de Lamas de Ôlo têm todo o direito ao benefício do progresso, entre os quais os múltiplos canais de televisão difundidos via satélite. Pois têm! E há umas duas dezenas de anos, para isso contribuíram as diversas reportagens, inclusive televisivas, que me proporcionaram, ao fazê-las, um conhecimento mais profundo da região que viria a integrar o Parque Natural do Alvão.
Noutras localidades, foram encontradas soluções mais adequadas, menos violentas para a paisagem. Os diversos projectos de desenvolvimento rural, inclusive apoiados em fundos comunitários, poderiam ajudar, tal como ajudaram noutras situações, a encontrar soluções técnicas viáveis, utilizadas com eficácia noutras localidades, e que em Lamas de Ôlo manteriam a pureza paisagística.
Apelar ao bom senso e à sensibilidade dos responsáveis pela Administração Municipal, do Parque, da EDP, da Telecom, será talvez o mínimo que se pode fazer.
NOS MONUMENTOS O MESMO PANORAMA
Muitos dos monumentos que constam dos desdobráveis turísticos, servem, também eles, de substitutos de postes de iluminação, para elevar antenas ou com um simples parafuso para fixar uns tantos cabos e fios. Exemplos?
É só olhar enquanto viajarem por Trás-os-Montes e Alto - Douro.
Dos muitos possíveis aqui lhes deixo apenas três exemplos.
Edifício do Museu em Vila Flor - um histórico imóvel, onde no passado terão funcionado os Paços do Concelho.
Com poucos contos enterravam o cabo da electricidade.
Ponte / Torre da Ucanha, no Concelho de Tarouca.
Cartaz turístico em muitos desdobráveis.
Também este monumento nacional está rodeado de parabólicas.
A própria torre serve de suporte a alguns cabos.
Castelo de Miranda do Douro.
Monumento Nacional. Mais um dos muitos exemplos de sementeira de antenas.