Ana Soares
Para cá do Marão, Ministros é que não!
A aposta no Interior, políticas diversificadas de apoio ao investimento, aplausos aos negócios da região e muitos temas semelhantes são uma constante no discurso político, da esquerda à direita, especialmente quando se aproxima alguma eleição.
No entanto, como diz nosso povo, de boas intenções está o inferno cheio, e quando vamos verificar a diferença da teoria à prática, a mesma mostra-se abismal! Parece até que se criou a tradição de, salvo raras excepções, a vinda de cada Ministro ao Interior ter sempre como ponto de honra o anúncio de encerramento de mais algum serviço estatal.
Desta última vez foi, foi a Ministra das Finanças que anunciou o encerramento de repartições da Autoridade Tributária. Tudo em prol – dizem -, como vem sendo também habitual, de uma racionalização de recursos públicos.
Confesso que o argumento da racionalização dos recursos públicos me pareceria um argumento bastante válido se fossem efectivamente cortados os gastos do dinheiro de todos nós onde ele verdadeiramente não faz falta. Aliás, com o aproximar das eleições, interessante é sempre analisar a dança de cadeiras de boys e girls que nada mais fizeram na vida - ou se fizeram, nunca nem com metade do rendimento que têm nos novos cargos - que cavalgar em empregos políticos. E aqui parece-me que, sem dúvida, haveria muito mais a racionalizar do que em serviços fundamentais para as populações. Digo eu.
A verdade é que, a par de verdadeiros elogios ao Interior e seus habitantes, os nossos serviços vão sendo cortados em catadupa, como se a nossa Constituição previsse acesso aos mesmos facilitado para quem vive no Litoral e mais custoso para os outros cidadãos.
E o pior de tudo é que sempre que algo assim acontece, pouco mais fazemos que falar sobre o assunto durante dois ou três dias com grande irritação, acabando depois por nos acostumarmos ao mais que nos tiraram: maternidades, especialidades clínicas, tribunais, finanças, ...
Não fosse um assunto tão sério, e até seria cómico ver que no mesmo discurso em que foram anunciados os novos encerramentos de serviços, foram auto-elogiados os projectos governativos de redução de impostos para investimento no Interior, sempre com a nota de rodapé que agora caberá aos empresários querer investir na região. Ou seja, o Governo claramente não aposta na região, mas apela a que outros o façam por si. Porque se é verdade que não cabe ao Governo substituir o investimento privado, caber-lhe-á, pelo menos, a par de discriminação positiva, criar condições para que o mesmo se concretize, e é certo e sabido que se a ausência de serviços estatais, ou a necessidade de percorrer grandes distâncias para aceder aos mesmos, muito prejudica os cidadãos também não é nada apelativo para as empresas.
E enquanto a tradição se mantiver infelizmente cumprida por qualquer governo dos últimos 15 anos, de por cada visita ministerial ser anunciado o encerramento de serviços, mesmo em prejuízo dos nossos responsáveis locais que tanto gostam de aparecer na tv, eu diria que para cá do Marao, Ministros é que não!